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Bronquiolite – O que é?

Introdução

A bronquiolite aguda é uma doença caracterizada por respiração acelerada, tiragem (tiragem intercostal e adejo nasal) e pieira (os chamados “gatinhos), ocorrendo habitualmente em crianças abaixo dos 2 anos.

Em situações de maior gravidade, por existir uma diminuição dos sons respiratórios e um compromisso da oxigenação sanguínea.

O diagnóstico é realizado, acima de tudo, através do quadro clínico que a criança apresenta, idade da criança e presença de epidemia de bronquiolite na comunidade. Após uma bronquiolite, é comum repetirem-se alguns episódios de pieira com as mesmas características, geralmente com menos gravidade.

O que causa a Bronquiolite?

O vírus sincicial respiratório (VSR) é o agente causador da maioria dos casos (50-80%). Outros vírus podem também ser responsáveis pelo aparecimento da doença, nomeadamente: parainfluenza, adenovírus, influenza, enterovírus.

A infecção ocorre principalmente nos meses frios do ano, entre Dezembro e Março, diminuindo depois a sua frequência. Nas cidades, o pico de incidência ocorre entre os 2 e os 6 meses, enquanto que nas zonas rurais a bronquiolite afeta as crianças até aos 2 anos. Após a infecção, o VSR continua a ser eliminado pelas secreções respiratórias durante cerca de 9 dias.

Quando o lactente tiver três ou mais episódios de bronquiolite ou quando o quadro for atípico ou grave, é importante o diagnóstico diferencial com outras doenças, nomeadamente, asma, refluxo gastroesofágico, fibrose quística, insuficiência cardíaca e aspiração de corpo estranho.

Como é que a bronquiolite se apresenta?

Clinicamente, inicia-se com sintomas ligeiros de infecão vírica, com surgimento de secreções nasais, tosse e por vezes febre baixa. Em 1-2 dias a situação agrava-se, surgindo respiração acelerada, tiragem intercostal e pieira. O bebé pode-se apresentar muito irritável, recusando a alimentação. Por vezes podem surgir vómitos associados.

No exame objectivo, a frequência respiratória está muitas vezes acima dos 50-60 ciclos respiratórios por minuto, há frequência cardíaca acelerada e a temperatura é variável, podendo o bebé apresentar-se sem febre ou com febre elevada. É comum aparecer de forma associada conjuntivite, otite ou faringite. Há sinais de dificuldade respiratória como tiragem intercostal e adejo nasal. Na auscultação pulmonar é perceptível um tempo expiratório prolongado, com roncos e sibilos bilaterais.

A cianose (presença de membros superiores e lábios azulados/arroxeados) é pouco frequente. Pode haver desidratação, devida à recusa de ingestão de líquidos, pela dificuldade respiratória ou devido aos vómitos.

Que Exames Complementares de Diagnóstico devem ser realizados?

Sobretudo nos doentes mais graves, pode justificar-se o pedido de radiografia do tórax. Esta pode ser normal ou apresentar insuflação bilateral, com aumento da transparência dos campos pulmonares, alargamento dos espaços intercostais e abaixamento do diafragma; às vezes, há infiltrados dispersos ou peribrônquicos sugestivos de pneumonite; pode também haver atelectasias segmentares ou subsegmentares; é raro o derrame pleural.

Os doentes graves ou com complicações (por exemplo, vómitos e/ou desidratação, suspeita de sobreinfecção bacteriana) devem ser internados e fazer avaliação complementar com análises clínicas como o hemograma, proteína C reactiva (PCR), ionograma,etc.

Nas formas ligeiras, estes exames complementares não têm utilidade.

Como se trata a bronquilite?

Na grande maioria dos casos, a bronquiolite é tratada em casa, fora do ambiente hospitalar.

O tratamento da bronquiolite é essencialmente de suporte: oxigenoterapia, hidratação, vigilância do estado respiratório (hipoxémia, apneias, insuficiência respiratória), temperatura e nutrição. Outros aspectos mais controversos dizem respeito ao uso de broncodilatadores, corticóides, antibióticos, antivirais específicos ou imunoglobulinas.

OXIGÉNIO

A grande consequência da infecção pelo VSR é a obstrução das pequenas vias aéreas e consequente hipoxémia (baixa de oxigénio no sangue). Nas formas ligeiras, a dificuldade respiratória é pouco marcada e não necessita de tratamento. Na bronquiolite moderada a grave, há sempre algum grau de hipoxémia, e daí a necessidade de a corrigir oxigenoterapia. Quando possível, é útil monitorizar a saturação transcutânea de oxigénio (SaO2), regulando a concentração de O2 por forma a manter a SaO2 igual ou superior a 92%.

HIDRATAÇÃO

Na bronquiolite ligeira a moderada, a criança consegue, regra geral, manter uma ingestão de água aceitável. Geralmente, aconselha-se apenas fraccionar as refeições para compensar a recusa alimentar que o bebé costuma apresentar.

Os lactentes que não conseguem manter uma ingestão adequada de líquidos, devido à dificuldade respiratória e/ou aos vómitos, deverão ser internados. Normalmente, administram-se líquidos por via endovenosa, mantendo a ingestão oral que for tolerada com segurança.

BRONCODILATADORES

O papel dos β2-agonistas, em particular do salbutamol, mas também da epinefrina e do brometo de ipratrópio, no tratamento da bronquiolite aguda é controverso. Normalmente, usa-se o salbutamol nebulizado, que pode ser benéfico nalguns doentes, devendo ser sempre administrado com O2 nos doentes mais graves. Se houver melhoria, mantém-se a sua utilização. O brometo de ipratrópio, associado ao salbutamol, também pode ser útil.

CORTICOSTERÓIDES

Não têm qualquer acção benéfica no tratamento da bronquiolite aguda. Tantos os corticóides oral como endovenosos foram comparadas com placebo, concluindo-se que não têm qualquer efeito clínico, nem na função pulmonar nem na duração do internamento.

ANTIBIÓTICOS

Sendo a bronquiolite aguda uma doença de etiologia vírica, os antibióticos só terão interesse na infecção secundária bacteriana, o que acontece apenas em cerca de 2% dos casos. Geralmente, coloca-se a suspeita quando a situação clínica se agrava inesperadamente, quando surge leucocitose com neutrofilia e aumento da PCR ou se verifica deterioração radiológica. Nestes casos, pode justificar-se a prescrição de antibiótico.

FISIOTERAPIA

Os lactentes com bronquiolite ligeira não necessitam de fisioterapia. Os que têm bronquiolite moderada a grave têm dificuldade respiratória e hipoxémia, o que se agrava se choram muito quando são manipulados. Portanto, não há benefício e pode haver agravamento do quadro se forem submetidos a fisioterapia durante a fase aguda da bronquiolite. Por vezes, na convalescença pode persistir tosse produtiva que se arrasta e por vezes se torna emetisante. Nestes casos, a fisioterapia pode ser útil.

ANTI-VIRAIS (RIBAVIRINA)

Duma forma geral, não está completamente provado o papel benéfico da ribavirina na maior parte destas situações. Por outro lado, a mortalidade por bronquiolite, mesmo nos doentes de risco, é bastante baixa e os custos desta terapêutica são muito elevados, o que aumenta a controvérsia acerca da sua utilização.

QUANDO DEVE RECORRER AO HOSPITAL?

  • Dificuldade respiratória moderada a grave
  • Hipoxémia
  • Apneia
  • Recusa alimentar ou vómitos
  • Meio social desfavorável
  • Impossibilidade de garantir cuidados
  • Idade inferior a 6 semanas

Na presença deste tipo de patologia, também deverá recorrer ao hospital:

  • Displasia broncopulmonar
  • Trissomia 21
  • Cardiopatia congénita com hipertensão pulmonar ou insuficiência cardíaca
  • Doença neuromuscular
  • Fibrose quística ou outra patologia respiratória crónica
  • Imunodeficiência.

EM RESUMO

A bronquiolite aguda é uma doença muito frequente no lactente e uma das grandes causas de internamento neste grupo etário. O oxigénio é a medida terapêutica mais útil. O uso de broncodilatadores pode estar indicado. A maior parte das outras terapêuticas, apesar de correntemente utilizadas, são pouco eficazes.

– Dr. João Júlio Cerqueira – Especialista de Medicina Geral e Familiar-

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