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O que causa e como se trata a Acne?

Introdução

A acne é um dos problemas de pele mais frequentes, atingindo 50-95% dos adolescentes. Destes, 20-35% têm acne moderada a severa.

Visto que ocorre principalmente na adolescência, altura particularmente difícil devido a todas as mudanças que acontecem nesta fase da vida, os efeitos cosméticos podem ter um impacto psicossocial importante caso não seja tratado.

Pode inclusive levar à depressão, ansiedade, isolamento social e baixa autoestima, daí a importância de abordar esta doença.

O que causa a acne?

O seu aparecimento é iniciado com a produção dos androgénios (testosterona, por exemplo) durante a adolescência e a sua gravidade parece estar diretamente relacionada com os níveis hormonais.

No entanto, a acne pode persistir para lá da adolescência numa proporção significativa de pessoas, principalmente nas mulheres, e mesmo após a acne desaparecer, lesões permanentes como as cicatrizes e a despigmentação não são raras.

Existem também fatores genéticos envolvidos. Se existir um familiar próximo com história de acne severa, a probabilidade de desenvolver este problema é maior.

O ambiente também tem um papel relevante. As populações com um estilo de vida “natural” não parecem desenvolver acne. A dieta parece ser fundamental, com investigações a demonstrarem a existência de uma relação entre o aparecimento da acne e a dieta ocidental (ver mais abaixo).

Existem outros fatores externos, como a utilização de produtos cosméticos para pele e cabelo que aumentam a gravidade da acne.

Roupas demasiado justas e que provoquem irritação mecânica da pele são fatores agravantes, assim como certas medicações:

  • Corticóides;
  • Androgénios;
  • Esteróides anabolizantes;
  • Antidepressivos;
  • Antiepiléticos;
  • Imunomoduladores;
  • Lítio;
  • Fármacos de quimioterapia.

Como se desenvolve?

Como referido, a acne depende dos androgénios que atuam na chamada unidade pilossebácea.

Acne e a unidade pilossebácea Como verificado na imagem, a unidade pilossebácea é constituída pelo pêlo e pelas glândulas sebáceas que secretam o sebo pelo folículo piloso.

Quando os androgénios aumentam, desencadeiam uma reacção:

  1. Aumento da produção de sebo;
  2. Alteração do processo de queratinização (produção aumentada);
  3. Crescimento de bactérias que se alimentam do sebo (principalmente a Propionibacterium acnes);
  4. Reação inflamatória nas unidades pilossebáceas.

A imagem descreve resumidamente como aparece a acne.

Desenvolvimento da acne

O aumento da atividade das glândulas sebáceas e o excesso de queratinização leva à obstrução do canal pilossebáceo (conhecido como poro).

Essa obstrução dos poros provoca a retenção do sebo que deveria ser eliminado, e à consequente formação dos chamados comedões.

Pode ser um comedão fechado, se houver apenas distensão do folículo (pápula elevada, branca ou amarela).

Ou então, se o poro começar a dilatar à superfície, forma-se um comedão aberto (os chamados “pontos negros”)

Comedões

O comedão fechado é o precursor das lesões inflamatórias associadas à acne. As bactérias atuam sobre o sebo acumulado e favorecem a inflamação da pele, formando lesões inflamadas e com pus. A Propionibacterium acnes (P. acnes) é a principal responsável. Está presente na pele de todas as pessoas, mas em maior quantidade nas que apresentam acne.

A acne papulopustular

Como é que se apresenta?

A acne manifesta-se principalmente na áreas do corpo com maior concentração de glândulas sebáceas:

  • Face;
  • Costas;
  • Peito;
  • Zona superior dos braços.

Pode se diferenciada em:

Acne comedónica ou Grau I – composta essencialmente por comedões abertos e fechados, sem inflamação associada (figura A).

Acne papulopustular ou Grau II – apresenta-se com comedões inflamados que se transformam em pápulas e pústulas (figura B).

Acne nódulo-cística ou Grau III – forma de acne com comedões, pápulas, nódulos endurecidos dolorosos e pústulas com crostas (figura C)

Acne conglobata ou Grau IV – forma severa de acne encontrada principalmente no sexo masculino, com comedões, pápulas, pústulas, nódulos, cistos e seios de drenagem com múltiplos canais. As cicatrizes são sequelas frequentes (figura D)

Gravidade da acne

Como se trata a acne?

Não existe uma única maneira de abordar a acne. Existem diferentes tratamentos que funcionam através da:

  • Diminuição do número de bactérias na pele;
  • Destruição do comedão;
  • Diminuição dos níveis de androgénios.

Na maioria dos casos, é necessária uma abordagem múltipla. Vamos falar dos tipos de produtos que existem e deixamos um resumo sobre o mais indicado em cada tipo de acne.

Ácido Salicílico – é o ingrediente ativo da maioria dos cremes de venda livre. Tem acção comedolítica (destrói os comedões) e anti-inflamatória. Usada nas formas ligeiras ou juntamente com outros medicamentos em formas mais graves.

Sulfacetamida – é um antibiótico tópico (para colocar na pele), que mata o P. acnes. Existe em vários tipos de preparações – cremes, pomadas, loções, sabões e espumas. Apesar de ser muito utilizado, a sua eficácia é limitada.

Peróxido de Benzoíla – propriedades antibióticas potentes e também tem acção comedolítica e anti-inflamatória ligeira. Muito eficaz no tratamento da acne inflamatória (pápulas, pústulas e cistos). Um dos seus problemas é a irritação que provoca na pele e algumas pessoas não toleram o medicamento.

Antibióticos tópicos – para a acne inflamatória são uma boa opção. A eritromicina e a clindamicina são os mais utilizados.

Antibióticos orais – podem ser considerados nos doentes com várias lesões inflamatórias, em áreas distintas. Atua através da redução da carga bacteriana. Os mais utilizados são as tetraciclinas (tetraciclina, doxiciclina, minociclina), com acção antibacteriana e anti-inflamatória. Os antibióticos orais devem ser utilizados até não existir aparecimento de novas lesões, o que acontece entre 2 a 5 meses de tratamento.

Retinóides tópicos – considerados a primeira linha para o tratamento da acne. Os retinóides mais conhecidos são a tretinoína e o adapaleno. Destroem o microcomedão, a lesão precursora de todas as lesões de acne. Os retinóides normalizam a queratinização excessiva, influenciando a maturação das células epiteliais. Desta forma,  impede a oclusão da glândula sebácea. Têm ação comedolítica e anticomedogénica, sendo um tratamento útil para comedões fechados, abertos e pápulas inflamatórias. Também ajudam na penetração de outros medicamentos tópicos, diminuem a hiperpigmentação pós-inflamatória e tem outras propriedades anti-inflamatórias.

O problema dos retinóides é que demoram 8 a 12 semanas a começar a atuar e causam secura e irritação da pele, que pode dificultar a adesão ao tratamento. Além disso, os retinóides podem aumentar a sensibilidade ao sol, pelo que a utilização de protector solar deve ser encorajada! Usar o retinóide à noite e o protector solar durante o dia é o mais adequado. Outro problema é o seu potencial de causar malformações fetais, pelo que as mulheres devem ter medidas anticoncepcionais implementadas antes de iniciar este tratamento.

Ácido azeláico – tem ação comedolítica, antibacteriana e anti-inflamatória, que o torna eficaz contra os comedões e a acne inflamatória ligeira. Geralmente é bem tolerado com algum formigueiro transitório nas primeiras aplicações. Também ajuda a diminuir o eritema e a hiperpigmentação pós-inflamatória.

Dapsona tópica – A dapsona tem acção antimicrobiana e anti-inflamatória, embora o mecanismo de ação seja desconhecido. É usado no tratamento da acne inflamatória ligeira a moderada. A grande vantagem é que não provoca grande irritação da pele sendo uma boa alternativa ao peróxido de benzoíla, por exemplo.

Isotretinoína – é um retinóide oral, reservado para acne cística severa ou moderada que não responde a outros tratamentos. Muito eficaz, funciona através da redução da secreção de sebo, impede a oclusão da glândula sebácea e a proliferação do P. acnes.  Este tratamento obriga à monitorização laboratorial mensal dos lipídos, hemograma completo e testes de função hepática. A maior preocupação em relação a isotretinoína é o potencial para causar malformações fetais. É essencial que as doentes do sexo feminino não engravidem enquanto estiverem a tomar isotretinoína, pelo que mulheres sexualmente ativas devem utilizar métodos de controlo da natalidade. O tratamento dura entre 4 a 7 meses. A maioria dos pacientes tem uma melhoria acentuada da acne, que pode durar anos, ou ser mesmo definitiva.

Tratamento hormonalapropriado apenas para o sexo feminino. O objetivo é diminuir os níveis de androgénios. Comprimidos com estrógenio e progesterona combinados com baixa atividade androgénica são os indicados. A terapia hormonal é particularmente útil para as mulheres que têm  agravamento pré-menstrual da acne ou diagnóstico de síndrome do ovário policístico. Mulheres que apresentam pápulas inflamatórias na parte inferior do rosto (especialmente no queixo) e no pescoço também podem beneficiar deste tratamento. A resposta ao tratamento pode demorar 3 a 6 meses e pode associar-se a administração tópica de outros medicamentos para a acne . Não esquecer que os antibióticos diminuem a eficácia da pílula anticoncepcional, pelo que precauções adicionais para evitar a gravidez são necessárias.

Deixamos as indicações de primeira linha para o tratamento da acne de acordo com a severidade. No entanto, existem múltiplas opções e o papel do médico é avaliar o que mais se adequa a cada doente em particular.

Acne Comedónico  (grau I) Retinóide tópico
Acne pápulo-pustular ligeiro a moderado (grau II) Adapaleno/Tretinoína + Peróxido de Benzoíla

OU

Peróxido de Benzoíla + Clindamicina tópica

Acne pápulo-pustular moderado a severo e nodulo cístico (grau III) Isotretinoína

Alternativas nas mulheres

Hormonas antiandrogénicas (pílula) + tratamento tópico OU antibióticos orais

Acne nodular/conglobata severo (grau IV) Isotretinoína

Alternativas nas mulheres

Hormonas antiandrogénicas (pílula) + antibióticos orais

Baseado na: Guideline on the Treatment of Acne Developed by the Guideline Subcommittee “Acne” of the European Dermatology Forum. 2011

Suplementação dietética e alimentação

A nicotinamida é um componente do complexo da vitamina B. Funciona através da inibição da lipogénese sebácea e diminui a inflamação. A suplementação com nicotinamida oral e tópica parecem ser úteis como tratamento complementar da acne inflamatória. O zinco é bacteriostático contra P. acnes e contém propriedades anti-inflamatórias que também aparenta ter utilidade na acne inflamatório, mas ainda não há resultados conclusivos.

Um estudo recente demonstrou que a suplementação de uma combinação de nicotinamida com ácido azeláico levou a uma redução visível de lesões inflamatórias quando associados ao regime terapêutico convencional para a acne.

A relação entre a dieta e a acne ainda não está completamente esclarecida, mas parece existir uma associação com alimentos com grande carga glicémica (açúcares refinados). A relação com as gorduras e fritos também ainda não foi devidamente documentada, assim como o consumo de leite e chocolate.

Espero que artigo lhe seja útil…e se precisar de apoio médico ou dietético, conte connosco!

   – Dr. João Júlio Cerqueira Especialista de Medicina Geral e Familiar – 

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