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Constipação – Crenças e Expectativas Desmistificadas

Introdução

A constipação é uma das razões mais comuns pela qual os doentes visitam o médico. Ao contrário da crença comum, a constipação não é causada pelo frio, pelas correntes de ar ou pela humidade.

A constipação é uma doença provocada por vírus. Existem mais de 200 vírus causadores desta doença, no entanto, em 30 a 80% o rinovírus é o responsável. Como se apresenta de forma sazonal, com incidência maior nos meses de Inverno, surgiu a associação errada entre o frio, a humidade e as correntes de ar e o surgimento da doença.

A principal via de infeção é a auto inoculação do nariz ou olhos após contato com secreções infetadas. O rinovírus pode sobreviver nas mãos ou em superfícies ambientais durante várias horas e foi detetado nas mãos de 40% a 90% das pessoas constipadas.

Os sintomas ocorrem dentro de 10 a 12 horas após a infeção e começa com uma dor ou sensação de garganta arranhada, seguida por secreções nasais aquosas e nariz entupido, olhos lacrimejantes, espirros e tosse. O pico da doença ocorre no segundo ou terceiro dia. As secreções nasais pioram e podem tornar-se mais espessas e com aspeto amarelado/esverdeado. Esta descarga mucopurulenta é comum e não indica necessariamente a presença de bactérias, com introdução de antibióticos no tratamento.

Outros sintomas da constipação incluem o mal estar, fadiga, dor de cabeça, rouquidão, dores articulares, pressão no ouvido, febre e dores musculares. Uma tosse seca pode desenvolver-se e persistir até a segunda semana de sintomas, às vezes mais tempo. A febre é comum em crianças, mas não é frequente em adultos. Os sintomas da constipação geralmente duram cerca de sete a dez dias, mas podem persistir por três semanas.

Quais os Fatores Que Aumentam o Risco?

Existem alguns fatores que aumentam o risco de vir a ter uma constipação:

  • Ser fumador;
  • Não ter uma alimentação saudável;
  • Viver em locais com grande densidade populacional;
  • Sedentarismo;
  • Exercício físico excessivo também aumenta o risco, no entanto, o exercício moderado é favorável e diminui o risco de constipação.
  • Nos adultos, o stress contribui para um aumento da suscetibilidade;
  • As creches são um importante fator de risco e quantas mais crianças partilharem o espaço, maior o risco.

Como prevenir a Constipação?

Ao contrário da crença comum, a ingestão de grandes doses de vitamina C ou evicção da exposição a temperaturas frias não impede o aparecimento de constipações.

Há, no entanto, estratégias que podem ajudar a reduzir o risco de infeções:

  • Ter uma dieta equilibrada;
  • Dormir o suficiente;
  • Gerir o stress;
  • Praticar exercício de forma moderada;
  • Limitar exposição ao tabaco;
  • Evitar contato, se possível, com as pessoas que apresentem sintomas de constipação;
  • Lavar as mãos com alguma frequência;
  • Desinfetar as superfícies regularmente (por exemplo, bancadas, maçanetas, a pega do telefone fixo).

Como tratar a Constipação?

Existem várias crenças e expectativas em relação ao tratamento da constipação e que muitas vezes entram em conflito com o tratamento adequado.

Primeiro,  não existe tratamento curativo para a constipação. Os objetivos do tratamento são para aliviar os sintomas e prevenir as complicações, enquanto o sistema imunitário do organismo combate a infeção. Existe uma série de medidas que os doentes podem utilizar para ajudar a diminuir o desconforto à medida que a doença segue o seu curso natural:

  • Beber muitos líquidos (mais de 6 copos/dia). Vai mantê-lo hidratado, ajuda a que as secreções nasais fiquem mais líquidas, aliviando o nariz entupido. Água, chá, e sopa são as melhores opções. Sopa de galinha, o “remédio da avó para a contipação”, tem um efeito anti inflamatório ligeiro que pode melhorar a mobilização das secreções. Não há necessidade de evitar o leite ou produtos lácteos.
  • Bebidas alcoólicas e com cafeína tendem a desidratar e devem ser evitadas;
  • Fumadores devem ser aconselhados a parar de fumar ou reduzir a frequência para evitar a progressão para uma superinfeção (infeção bacteriana que ocorre após a constipação);
  • Exercício físico moderado (por exemplo, andar a pé) não é prejudicial, e a evidência indica que pode ajudar a diminuir os sintomas;
  • Assoar o nariz é o método mais simples de limpar o nariz. No entanto, usar a técnica adequada é importante para limitar a propagação do vírus para os ouvidos e seios perinasais, bem como a outras pessoas. O lenço de papel descartável é preferível ao lenço de pano, visto que os últimos proporcionam um terreno fértil para a replicação de vírus e bactérias. Os doentes devem ser aconselhados a evitar assoar com demasiada força. A pressão excessiva pode empurrar o muco para dentro dos ouvidos e seios perinasais. As mãos devem ser lavadas após o manuseio do nariz e dos lenços para evitar a propagação da infeção;
  • Aumentar a humidade do meio ambiente com humidificadores ou vaporizadores ajuda a aliviar a congestão nasal;
  • Para os adultos, gargarejar com água morna e sal (1 a 3 colheres de chá de sal por copo de água quente da torneira) ajuda a aliviar dores de garganta;
  • A utilização de tiras de dilatação nasal pode fornecer alívio temporário da congestão nasal;
  • Para bebés e crianças pequenas, a aspiração suave das passagens nasais com uma seringa e a aplicação gotas nasais salinas ou soro fisiológico pode reduzir a congestão.

Medicamentos não sujeitos a receita médica

Há uma série de medicamentos sem receita disponíveis para tratar os sintomas associados à constipação comum, incluindo descongestionantes, anti histamínicos, anti tússicos, expectorantes e analgésicos. Os produtos que contêm apenas um princípio ativo são preferíveis aos medicamentos com múltiplas substâncias devido ao menor custo, menor risco de interação com outros medicamentos e menos efeitos laterais. Além disso, a utilização de produtos com vários componentes faz com que muitas vezes se estejam a ingerir substâncias orientadas para sintomas que não existem.

Tratar o sintoma mais incómodo da constipação com um produto direcionado é mais prudente do que tentar uma abordagem tipo “bazuca” em que se aponta a todos os sintomas.

Algumas pessoas devem abster-se de tomar os medicamentos sem receita médica, sem a supervisão de um profissional de saúde:

Evitar medicamentos sem receita médica:

  • Crianças <2 anos de idade

Não se deve auto medicar se:

  • Febre (> 38,5 °C, oral), dor no peito, falta de ar;
  • Agravamento ou sintomas adicionais;
  • Doença cardiopulmonar crónica, SIDA, terapia imunossupressora;
  • Doentes idosos ou debilitados;

Uso cauteloso:

  • Crianças (> 2 anos até a adolescência);
  • Os adultos mais velhos;
  • As mulheres grávidas;
  • Os pacientes com patologias múltiplas.

Medicamentos sujeitos a receita médica

Existe uma variedade de opções terapêuticas para alívio sintomático da constipação com necessidade de prescrição médica.

Por essa razão, caso experimente os tratamentos de alívio descritos anteriormente e não melhore, deverá contatar um profissional de saúde. O mesmo aconselhamento se aplica caso tenha dúvidas relativamente à medicação não sujeita a receita médica.

 Relativamente ao tratamento farmacológico, deixo algumas dicas úteis:

  • Não deve fazer descongestionantes nasais por mais de três a cinco dias devido ao chamado “efeito rebound”. Ou seja, os sintomas vão piorar se continuar com o tratamento por mais tempo, assim que pare de tomar a medicação.
  • Não deve tomar anti histamínicos para a constipação, a não ser que exista história prévia de alergias (como é o caso da rinite alérgica).
  • Não tome anti tússicos (medicação para parar a tosse). A tosse é um mecanismo de defesa. A utilização deste tipo de medicamentos deve ser realizada apenas em casos particulares.
  • Se tiver dificuldade em expetorar as secreções, pode utilizar um expetorante, apesar da sua eficácia ser duvidosa. Uma boa hidratação é mais eficaz e mais barato.
  •  Se tiver dores, prefira o paracetamol (Ben-U-Ron) a outros analgésicos, pelo menor número de efeitos secundários.
  • O zinco, um elemento natural, tem demonstrado alguns efeitos na diminuição dos sintomas e duração da constipação. Apesar de existirem fármacos com zinco, é preferível uma alimentação rica neste elemento. É igualmente eficaz, mais natural e mais barato. Moluscos (por exemplo, ostras, mexilhões), carnes vermelhas e vísceras (por exemplo, o fígado) são alimentos ricos neste componente.
  • A utilização de antibióticos é inadequada. Não tem qualquer eficácia. No entanto, cerca de metade dos pacientes atendidos por esta causa vai deixar o médico com um antibiótico. Esse uso indiscriminado de antibióticos para o tratamento da constipação está a levar ao aparecimento de resistências antibióticas. Cabe ao médico explicar a sua inutilidade e ao doente baixar as suas expectativas relativamente à cura imediata da doença.

E não se esqueça. Se procura a qualidade, a PT Medical tem Médicos ao Domicílio, sempre prontos a ajudá-lo.

  – Dr. João Júlio Cerqueira Especialista de Medicina Geral e Familiar –

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