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Demência…Será um problema urgente?

Introdução

A demência é uma das maiores causas de incapacidade e dependência entre as pessoas no mundo.

É uma doença com um brutal impacto físico, psicológico, social e económico nos cuidadores, famílias e em toda a sociedade.

Com o envelhecimento da população mundial houve um aumento significativo no número absoluto de doentes com esta patologia.

De facto, a demência é sobretudo um problema associado ao envelhecimento…Depois dos 65 anos de idade, a prevalência de demência aumenta exponencialmente, duplicando a cada cinco anos. De um valor de 0,8% no grupo etário dos 65 aos 69 anos passa para 28,5% acima dos 90 anos de idade.

Estima-se que existam atualmente 35,6 milhões de pessoas em todo o mundo com demência e que surjam 7,7 milhões de novos casos por ano.

Para termos a noção das proporções que este problema está a atingir, analisem-se estes números: a cada quatro segundos soma-se um novo caso de demência no mundo. Em 2050 passará a haver um caso por cada segundo…

Mas…o que é a Demência?

A demência é uma síndrome (conjunto de sinais e sintomas) caracterizada por um declínio adquirido das funções cognitivas, geralmente associado a alterações de personalidade e/ou do comportamento, de gravidade suficiente para interferir no desempenho das atividades de vida diária e na qualidade de vida do indivíduo.

Compromete diferentes funções corticais, incluíndo:

  • Memória;
  • Racicínio;
  • Orientação;
  • Compreensão;
  • Cálculo;
  • Capacidade de aprendizagem;
  • Linguagem;
  • Processamento de informação.

Estas funções são comummente acompanhadas e, ocasionalmente precedidas, pelo comprometimento emocional, social e/ou motivacional.

A demência afeta cada pessoa de forma diferente, dependendo do impacto da doença e da sua pré-morbilidade.

Sabia que existem vários tipos de Demência?

Em todos os tipos de Demência ocorre declínio cognitivo e alteração no desempenho das atividades da vida diária.

No entanto, a sua apresentação clínica é diferente e é importante o diagnóstico diferencial para otimizar o tratamento.

A doença de Alzheimer é a demência mais comum e contribui para 40-70% dos casos, seguida pela demência vascular. Mas existem muitos outros tipos, como:

  • Demência com Corpos de Lewy;
  • Demência Fronto-temporal (ou Demência de Pick);
  • Doença de Parkinson;
  • Doença de Creutzfeldt-Jakob;
  • Coreia de Huntington;
  • Demência provocada pelo vírus da SIDA, entre outros.

Em publicações posteriores, iremos abordar os diferentes tipos de demência, individualmente.

O que causa a Demência?

Parece ser o resultado da morte de células cerebrais e/ou danos que comprometem a sua funcionalidade/atividade.

Atividade Cerebral Reduzida
Imagem que compara a atividade cerebral de uma pessoa normal com a atividade cerebral de um doente com demência em estadio avançado.

Os sintomas clínicos dependem em grande parte da região do Sistema Nervoso Central atingida.

Neuroanatomia
Neuroanatomia

Assim, nos quadros corticais, o envolvimento occipital determina dificuldades perceptivas e espaciais como a dificuldade em reconhecer pessoas e objetos e a desorientação espacial.

A Perturbação da Fenda de Silvius à esquerda determina dificuldades na linguagem, na compreensão do discurso (afasia), do cálculo e na expressão gestual (apraxia gestual).

A região parietal superior liga-se à organização dos movimentos e a sua destruição relaciona-se com alterações motoras  – apraxias motoras (no uso dos membros, face e boca).

A região média, no Hipocampo e Amígdala, correlaciona-se com as perturbações da memória.

O Cortéx Pré-Frontal permite a avaliação e planeamento de tarefas.

diferentes tipos de atingimento cerebral
Exemplos do atingimento cerebral em diferentes doentes: Da esquerda para a direita. Primeira linha: Cerébro saudável; Doença Tipo Alzheimer; Doença Tipo Alzheimer Severa; Segunda linha: Demência vascular; Demência Frontotemporal; Demência Tipo Alzheimer com Afasia associada.

Quais os sinais e sintomas da demência?

Podemos dividir em três fases.

  • Fase inicial;
  • Fase moderada/intermédia;
  • Fase avançada.

Fase inicial

A fase inicial passa muitas vezes despercebida.

Cuidadores e profissionais tendem a ver os sintomas como decorrentes do processo normal de envelhecimento, devido ao estabelecimento lento e gradual da demência. Alguns dos sintomas mais precoces são:

  • Esquecimentos repentinos, de acontecimentos acabados de decorrer;
  • Dificuldade em comunicar, por vezes troca ou salta palavras, pode também perder o “fio” da conversa;
  • Desorientação espacial em locais familiares;
  • Desorientação temporal (esquece o dia, o mês, o ano);
  • Dificuldade em gerir e lidar com a sua vida financeira;
  • Dificuldade em executar tarefas domésticas mais complexas;
  • Alterações do Humor e Comportamento:
  • Torna-se menos ativo;
  • Pode perder o interesse nas atividades de lazer;
  • Pode reagir agressivamente sem razão aparente.
  • Instalação de depressão e ansiedade.

Fase intermédia

Quando a demência progride para o estadio intermédio, os sinais e sintomas tornam-se mais claros e restritivos:

  • Esquecimentos mais frequentes, sobretudo de acontecimentos recentes e nomes de pessoas;
  • Dificuldade em compreender data, hora, lugar e eventos;
  • Pode perder-se em casa, bem como na comunidade;
  • Maior dificuldade em comunicar (fala e compreensão)
  • Necessidade de ajuda e/ou supervisão nas atividades da vida diária, como higiene e aprumo pessoal;
  • Dificuldade em preparar com êxito uma refeição, cozinhar, limpar e fazer compras;
  • Precisa de acompanhamento regular para viver em segurança;
  • Alterações acentuadas de comportamento:
  • Questionar repetidamente sobre o mesmo assunto;
    • Gritar/chamar por alguém;
    • Alucinações (ver e/ou ouvir coisas que não existem)
    • Comportamentos desadequados em casa ou na comunidade (desinibição, agressão)

Fase Avançada

O último estadio está perto da total dependência e inatividade. As perturbações de memória são muito graves e as competências motoras estão significativamente comprometidas:

  • Normalmente não tem noção do tempo e espaço;
  • Dificuldade em reconhecer familiares, amigos e objetos do seu quotidiano;
  • Dificuldade em compreender o que se passa ao redor;
  • Dependente na alimentação, banho e higiene pessoal;
  • Incontinência urinária e intestinal;
  • Alteração na mobilidade: marcha com ajuda técnica ou até mesmo ausência de marcha;
  • Dificuldade de orientação e participação na sua própria casa;
  • Alterações severas de comportamento: Agressão física e/ou verbal ao cuidador (bater, gritar, gemer, trincar, entre outras)

O que podemos fazer para minimizar o impacto?

Todos temos um papel importante para diminuir a carga que esta doença representa.

Em primeiro lugar está, sem dúvida, a necessidade de investirmos mais na prevenção (em publicações posteriores falaremos do que podemos fazer para prevenir/retardar o aparecimento da demência).

Se existe suspeita de doença, é crucial um diagnóstico e intervenção precoce, por forma a retardar o mais possível a evolução da doença. É importante os familiares estarem atentos aos primeiros sinais de doença.

Caso os sintomas estejam presentes, o doente deve recorrer aos cuidados de saúde primários para confirmar a suspeição, descartá-la em detrimento de outro diagnóstico ou simplesmente assegurar o doente e os familiares que não existe nada de errado, de momento.

Se a suspeição for confirmada, é fundamental proceder ao diagnóstico do tipo de demência presente, tendo em conta que existem “demências reversíveis”:

  • Défice de vit. B12;
  • Hipotiroidismo;
  • Medicações com impacto negativo nas funções mentais;
  • Problemas hepáticos ou renais descompensados;
  • Alcoolismo;
  • Depressão;
  • Doenças infecciosas;
  • Doenças autoimunes;
  • Presença de tumores cerebrais, hidrocefalia ou hematoma subdural;

Na exclusão de causas reversíveis e diagnóstico do tipo de demência ter sido estabelecido, deve ser iniciado o tratamento.

É impontante educar os cuidadores e familiares para um melhor acompanhamento a longo-prazo, assim como oferecer  serviços de suporte e acompanhamento psicológico e social dos cuidadores.

Qual o papel da Terapia Ocupacional?

A terapia ocupacional tem um papel fundamental no tratamento da pessoa com Demência.

A Terapia Ocupacional ajuda as pessoas, famílias e cuidadores a compreender o impacto da doença no dia-a-dia. O terapeuta ocupacional trabalha com os doentes por forma a compensar as limitações e manter durante o máximo de tempo possível a sua independência.

São várias as abordagens do Terapeuta Ocupacional na pessoa com Demência.

Prevencao demencia

A PT Medical tem uma equipa para o servir de médicos, psicólogos, terapeutas da fala e ocupacionais.

Tem temos disponível serviço de apoio domiciliário em permanência. Estamos sempre prontos a ajudar quem precisa de nós, com a qualidade que merece.

Curiosidade:

Sabia que uma cidade na Holanda criou uma aldeia alternativa, em que as pessoas com demência podem ter uma vida normal, mas adaptada à sua nova realidade. Veja o vídeo!

– Dra. Joana Martins   Terapeuta Ocupacional –   

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