Introdução
Uma das causas que determina o fracasso escolar e exclusão social é a dificuldade em ler. A criança com dificuldades na leitura, vai encontrar na aprendizagem um obstáculo, inibindo-a também no desenvolvimento emocional e das suas habilidades sociais.
Culturalmente pensa-se que a dislexia é resultado de uma má alfabetização ou de níveis de inteligência inferior comparativamente com os pares. No entanto, hoje em dia sabe-se que a dislexia resulta de uma condição hereditária, que apresenta alterações a nível do padrão neurológico na aquisição da leitura.
Vários estudos internacionais mostram que entre 0,5% e 17% da população mundial é disléxica, sendo que os principais problemas são as dificuldades na leitura, escrita, e compreensão do que se lê.
Em Portugal, a dislexia tem uma prevalência entre 5 a 17.5 %. Quando falamos na distribuição da Dislexia tendo em conta o género, inicialmente os rapazes apresentavam uma maior prevalência. Actualmente verifica-se uma distribuição equilibrada entre os géneros no que se refere à prevalência da dislexia.
Mas, o que é a Dislexia?
A Dislexia é definida como uma Perturbação da Aprendizagem na área da leitura, escrita e soletração. Os sinais podem ser identificados logo na pré-escola.
Associação Internacional de Dislexia (2003) definiu Dislexia como:
“Dislexia é uma incapacidade específica de aprendizagem, de origem neurobiológica. É caracterizada por dificuldades na correção e/ou fluência na leitura de palavras e por baixa competência leitora e ortográfica. Estas dificuldades resultam de um Défice Fonológico, inesperado, em relação às outras capacidades cognitivas e às condições educativas.
Secundariamente podem surgir dificuldades de compreensão leitora, experiência de leitura reduzida que pode impedir o desenvolvimento do vocabulário e dos conhecimentos gerais”.
As crianças disléxicas são crianças que apresentam problemas de linguagem que se vão refletir na leitura e na escrita, apesar de terem um QI normal e não apresentarem problemas físicos, nem psicológicos que possam explicar estas dificuldades.
As crianças disléxicas têm uma caligrafia quase ilegível, e têm uma tendência para substituir ou omitir letras (ex.: d por b; tapa por pata), sílabas ou palavras, podendo ainda invertê-las ou lê-las de trás para frente. É também frequente, quando falam, trocarem o sentido e o som das palavras, (ex.: quente por firo; atrás por à frente; pobre por podre).
Tipos de Dislexia
Dislexia Acústica – manifesta-se na insuficiência para diferenciar os sons, ocorrendo omissões, distorções, transposições ou substituições dos fonemas. Confundem-se os fonemas pela sua semelhança articulatória
Dislexia Visual – Ocorre quando há imprecisão de Coordenação Vísuo-espacial , manifestando-se na confusão de letras com semelhança gráfica. Frequentemente, o primeiro procedimento dos pais e educadores é levar a criança a um médico oftalmologista.
Dislexia Motriz – evidencia-se na dificuldade para o movimento ocular. Há uma nítida limitação do campo visual que provoca retrocessos e principalmente intervalos mudos ao ler.
Sinais e Sintomas
As crianças que apresentam dificuldades de aprendizagem, especificamente Dislexia, podem apresentar alguns sinais de alerta tais como:
- Atraso no desenvolvimento da fala e da linguagem;
- Fraco desenvolvimento da coordenação motora;
- Desorganização;
- Fraco desenvolvimento da atenção;
- Frases curtas, palavras mal pronunciadas, com omissões e substituições de sílabas e fonemas;
- Dificuldade em aprender nomes: de cores (verde, vermelho), de pessoas, de objectos, de lugares…
- Não saber as letras do seu nome próprio;
- Dificuldade em aprender e recordar os nomes e os sons das letras;
- Dificuldade em aprender rimas e canções;
- Os trabalhos de casa parecem não ter fim, ou com os pais recrutados como leitores;
- Dificuldade em acompanhar histórias;
- Falta de capacidade para brincar com outras crianças.
- Atraso no desenvolvimento visual.
- Falta de interesse em livros impressos.
- Dificuldade com a memória imediata organização geral.
- A acumulação e persistência de seus erros de soletração ao ler e de ortografia ao escrever;
- Recusa ou insistência em adiar as tarefas de leitura e escrita;
- Dificuldade em associar as letras aos seus sons, em associar a letra “ éfe ” com o som [f];
- Erros de leitura por desconhecimento das regras de correspondência grafo-fonémica: vaca/faca; janela/chanela; calo/galo…
- Tendência para adivinhar as palavras, apoiando-se no desenho e no contexto, em vez de as descodificar;
- Confusão entre letras, sílabas ou palavras com diferenças sutis de grafia: a-o; c-o; e-c; f-t; h-n; i-j; m-n; v-u etc.;
- Confusão entre letras, sílabas ou palavras com grafia similar, mas com diferente orientação no espaço: b-d; b-p; d-b; d-p; d-q; n-u;w-n, a-e.
- Confusão entre letras que possuem um ponto de articulação comum, e, cujos sons são acusticamente próximos: d-t; j-x; c-g; m-b-p; v-f
- História familiar de dificuldades de leitura e ortografia noutros membros da família.
- Problemas ao nível da dominância lateral (lateralidade difusa, confunde a direita e esquerda, lateralidade cruzada);
- Problemas ao nível da motricidade fina e do esquema corporal.
Os sinais da Dislexia devem ser atendidos precocemente, tendo os profissionais educativos um importante papel na deteção das respetivas alterações. Os referidos profissionais não devem aguardar que a idade avance para que seja realizado o despiste da presença de Dislexia na criança.
Avaliação
A avaliação para as dificuldades da leitura ser realizada em qualquer idade, onde são avaliadas as competências fonológicas, a linguagem compreensiva e expressiva, o funcionamento intelectual, o processamento cognitivo e as aquisições escolares.
Quanto mais cedo um problema for identificado mais rápida e eficazmente se pode ajudar.
Após a avaliação é implementada a estratégia que mais se adequa à criança.
Intervenção
O sucesso na reeducação de uma pessoa com dislexia é baseado, sobretudo, na terapia multisensorial (aprender pelo uso de todos os sentidos), combinando sempre a visão, a audição e o tato para ajudá-la a ler e soletrar corretamente as palavras.
Existem múltiplos fatores que condicionam o processo de intervenção, podendo destacar-se:
- Meio ambiente compreensivo, estimulador e paciente;
- Trato vocal;
- Organização cerebral;
- Sensibilidade percetual para produzir os sons;
- Motivação da criança;
- Acompanhamento da família.
Vários métodos são propostos pela Associação Internacional de Dislexia.
Aprendizagem Multissensorial: As crianças têm que olhar para as letras e vocalizar os seus os sons, fazer os movimentos necessários à escrita e usar os conhecimentos linguísticos para aceder ao sentido das palavras.
Estruturado e Cumulativo: Segue a sequência do desenvolvimento, em que se inicia com os elementos mais fáceis e básicos e se vai gradualmente avançando para os mais complexos.
Ensino Directo, Explícito: Todos os diferentes conceitos devem ser ensinados de forma directa e explícita.
Ensino Diagnóstico: Ao final de um período de tempo deve ser realizada uma avaliação diagnóstica das competências que já foram adquiridas e as que estão por adquirir.
Ensino Sintético e Analítico: Devem ser realizados exercícios de ensino explícito da “Fusão Fonémica”, “Fusão Silábica”, “Segmentação Silábica” e “Segmentação Fonémica”.
Automatização das Competências Aprendidas: As competências aprendidas devem ser treinadas até à sua automatização, isto é, até à sua realização, sem atenção consciente e com o mínimo de esforço e de tempo. A automatização irá disponibilizar a atenção para aceder à compreensão do texto.
Os pais têm um papel fundamental
No processo de acompanhamento ajustado às necessidades da criança e da família. Devem motivar a criança para a prática de desporto e procurar um apoio junto dos diversos profissionais que podem contribuir para uma aprendizagem adequada da criança, como o Médico, Psicólogo e Terapeuta da Fala.
Curiosidades
– Para uma pessoa com dislexia, a língua mais fácil de aprender é o chinês e o japonês porque são compostas por símbolos.
– Algumas pessoas famosas com Dislexia e que não deixaram de ter sucesso nas suas carreiras:
Se precisar de ajuda para o diagnóstico e tratamento deste problema, consulte a PT Medical.
Terapeuta da Fala, Psicólogo, Terapeuta Ocupacional, Médico
– Dra. Ermelinda Pires – Psicóloga Clínica –
– Dra. Joana Cordeiro – Terapeuta da Fala –