Introdução
Os vómitos são um frequente motivo de procura dos cuidados de saúde.
Consiste na expulsão violenta pela boca do conteúdo do estômago e duodeno provocada pelo aumento e inversão da atividade motora da parede gastrointestinal e do abdómen.
Felizmente, na grande maioria das vezes, os vómitos são auto-limitados, não tendo duração superior a dois dias. Raramente estão associados a doenças sérias.
Este sintoma é muitas vezes confundido com a regurgitação e com a ruminação, sendo frequentemente causador de ansiedade e procura médica.
A regurgitação corresponde à expulsão de pequenas quantidades de alimentos já deglutidos, pouco depois de terem sido ingeridos, sem qualquer esforço; por sua vez, a ruminação é uma condição caracterizada por regurgitação repetitiva de alimentos recentemente ingeridos para a boca, seguida de remastigação e nova deglutição.
Causas dos Vómitos
A causa mais comum dos vómitos na idade pediátrica é a gastroenterite, que consiste numa infeção gastrointestinal causada por vírus ou bactérias. Está frequentemente associada a diarreia.
No entanto, a causa dos vómitos por vezes é mais complexa e uma grande variedade de doenças podem estar associadas.
A título de curiosidade, deixamos a tabela que se segue com as causas de vómitos de acordo com a idade.
< 3 semanas |
3 semanas-4 anos |
> 4 anos |
Adolescentes |
Causas comuns |
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Refluxo
Estenose hipertrófica do piloro Sépsis ITU Atresia do esófago Erros inatos do metabolismo Hidrocefalia Intolerância ao leite |
Intoxicação
GEA RGE Pós-acesso de tosse Carga excessiva Intolerância às proteínas do leite de vaca ITU Não-específica (Otite médica aguda, Pneumonia) |
GEA/gastrite
Não específica (otite média aguda, amigdalite, sinusite) Pós-acesso de tosse ITU Meningite Tóxico/ Envenenamento/ Drogas DRGE Cinetose |
GEA/Gastrite
DRGE Apendicite Ingestão (drogas, Bacillus cereus) Enxaqueca Doença inflamatória intestinal Obstrução |
Causas incomuns |
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Hiperplasia congénita da SR
Íleo meconial Hérnia encarcerada Doença de Hirschprung Hemorragia intracraniana
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Erros inatos do metabolismo
Acidose tubular aguda Malrotação Obstrução intestinal Invaginação intestinal Intolerância à lactose Insuficiência renal HTIC |
Cetoacidose diabética
Erros inatos do metabolismo Hepatite Enxaqueca Úlcera péptica Pancreatite HTIC (tumor) Síndrome de Reye Síndrome dos vómitos cíclicos |
Hepatite
Cetoacidose diabética Úlcera péptica Psicogénico Pancreatite Litíase biliar Cólica renal HTIC (tumor) Doença do ouvido médio Síndrome dos vómitos cíclicos |
ITU – Infeção do trato urinário; SR – suprarrenal; GEA – Gastroenterite aguda; OMA – Otite média aguda; HTIC – Hipertensão intracraniana; DRGE – Doença do refluxo gastroesofágico
Causas mais frequentes de acordo com a idade
Recém-nascidos e lactentes – o vómito não é normal e deve ser considerado, particularmente se estiverem presentes sinais de gravidade (por exemplo, febre, perda de peso ou recusa alimentar). Entre as hipóteses de diagnóstico, mais frequentes, incluiu-se o refluxo gastroesofágico, estenose pilórica e obstrução intestinal; outras causas que se podem apresentar com vómitos são sépsis, alimentação excessiva ou hipertensão intracraniana.
Crianças maiores – múltiplas doenças podem estar presentes. A mais frequente é a gastroenterite aguda. Contudo, doença do refluxo gastroesofágico, gastroparésia, obstrução mecânica, síndrome de Munchausen, massas intracranianas, doença ulcerosa péptica e cetoacidose diabética também devem ser consideradas no diagnóstico diferencial. Crise adrenal e anafilaxia devem ser ponderadas em crianças com hipotensão e/ou fatores predisponentes.
Adolescentes – Em adição às patologias acima citadas, algumas causas comuns de vómitos nos adolescentes incluem gastroenterite aguda, apendicite, doença inflamatória intestinal, gravidez e ingestão de tóxicos.
Então, o que deve fazer?
Se o seu filho tem vómitos, deve estar atento.
O aspeto geral da criança é um dos sinais mais importantes.
Se a causa for apenas uma gastroenterite ligeira, a criança, apesar dos vómitos, sentir-se-á bem o suficiente para manter o apetite, brincar e continuar a comportar-se normalmente.
Nestes casos, se o bebé ainda está em fase de aleitamento materno, continue a amamentá-lo normalmente.
Nas crianças que já não estão em regime de amamentação, deve ser feita uma pausa alimentar de 30 minutos e, gradualmente, iniciar a ingestão de líquidos (água ou chá com açúcar, fórmulas hidroeletrolíticas pediátricas ou para adultos) em pequenas quantidades consoante a tolerância.
A maior parte dos quadros de vómitos não implica o tratamento com medicamentos, sendo os episódios transitórios e que resolvem apenas com medidas dietéticas.
Depois da tolerância dos líquidos, devemos introduzir progressivamente alimentos de maior consistência mas mantendo uma dieta alimentar probre em legumes verdes/crus, frutos crus, laticínios, gorduras, molhos.
Deve dar preferência à confeção dos alimentos sob a forma de cozidos, grelhados e estufados, sendo a sopa branca de arroz, cenoura e cebola uma boa alternativa (a canja, contrariamente ao que se pensa, não é uma boa aposta, pois resume-se a água, gordura e frango). Para uma sobremesa, a gelatina ou a pêra/maçã cozida são boas opções.
Quando procurar o médico
Se alguma coisa lhe suscitar preocupação no aspeto geral da criança, deve levá-lo ao médico.
Outras razões para levar o seu filho ao médico:
- Continua a vomitar após 24 horas;
- A criança não consegue reter líquidos por pelo menos 8 horas, ou tem aspeto desidratado;
- Tem dor de barriga severa;
- Tem dor de cabeça e o pescoço está “rijo”.
Quais são os sinais de desidratação?
Se houver vários episódios de vómitos e diarreia associada, a desidratação pode ocorrer com alguma facilidade, principalmente nas crianças mais jovens.
As crianças desidratadas normalmente sentem-se e aparentam não estar bem. Os sinais de desidratação principais são:
- Boca seca;
- Choro sem produção de lágrima;
- Urinam menos ou sujam menos fraldas;
- Têm mais sede;
- Sentem-se fracas estão pouco ativas.
Nestes casos, o chamado sinal da prega passa a estar presente.
Conclusão
Os vómitos são na grande maioria das vezes auto-limitados e não estão associados a doenças graves.
O papel dos pais é cuidar da criança e estar atentos aos sinais de alarme descritos anteriormente. Caso apareçam, consulte o seu médico de família.
No caso de precisar de um médico de família, lembre-se da PT Medical!
– Dra. Albina Oliveira – Especialista de Medicina Geral e Familiar –
– Dra. Ângela Soares – Especialista de Medicina Geral e Familiar –