Introdução
A palavra placebo deriva do latim, do verbo “placere”, que significa “agradar”.
O Placebo é definido como um tratamento que apesar de não ter qualquer ação nos sintomas ou nas doenças, pode causar um efeito positivo no doente.
Por exemplo, se eu lhe der um comprimido de açúcar para as dores, você vai sentir-se melhor, com menos dor, apesar do açúcar não ter qualquer tipo de efeito fisiológico no tratamento deste sintoma.
Este efeito foi descoberto em estudos clínicos, em que os médicos administravam um medicamento com uma substância ativa a um grupo de doentes e um comprimido de açúcar (placebo) a outro grupo. O objetivo era estudar os efeitos do medicamento com a substância ativa. No entanto, aperceberam-se que o comprimido de açúcar tinha muito mais efeitos do que seria de esperar. Em alguns casos, os efeitos adversos dos comprimidos de açúcar chegavam a ultrapassar os do medicamento propriamente dito!
De fato, a potência do efeito placebo é impressionante, podendo tratar sintomas em 30 a 40% dos casos, chegando a 90% em algumas situações!
Isto significa que a componente psicológica do doente tem um papel central no tratamento de qualquer doença.
O efeito placebo é algo que ainda não está bem compreendido…pensa-se que este efeito se deve pelo menos em parte, à expetativa do doente. Se você pensar que o medicamento lhe vai fazer bem, esse pensamento acaba por condicionar o efeito do medicamento, mesmo que seja só açúcar…e no fim, vai sentir-se melhor.
Este efeito modifica-se com o tipo de intervenção
Apesar de não ter substância ativa, comprimidos placebo de cor amarela são mais eficazes no tratamento da depressão e comprimidos vermelhos fazem com que fique mais alerta e desperto. Quando o revestimento do comprimido é verde, ajuda a diminuir a ansiedade e comprimidos brancos aliviam mais os problemas gástricos, como úlceras de estômago ou gastrites. Além disso, se eu lhe prescrever um placebo 3 vezes por dia, vai ser mais eficaz do que se for tomado 1 vez por dia. Se o comprimido tiver alguma marca registada, o seu efeito vai ser mais forte e se o comprimido tiver um tamanho maior, também é mais eficaz.
A perceção do efeito também é alterada pelo nível de agressão provocado. Uma injeção de água é mais eficaz a tratar a dor que um comprimido de açúcar. E uma cirurgia falsa, em que o doente é anestesiado e o cirurgião só corta a pele, é mais eficaz que uma injeção.
Numa pesquisa sobre a eficácia da cirurgia às artérias do coração em doentes com angina de peito (dor provocada por má vascularização cardíaca), em que o placebo consistia apenas em anestesiar o doente e cortar a pele, verificou-se que o placebo tinha uma eficácia de 80% no controlo dos sintomas. Os que foram operados a sério tiveram melhoria de apenas 40%. Por outras palavras, o placebo funcionou melhor que a cirurgia.
Sabe que está a tomar placebo? Ele vai resultar na mesma…
Em ensaios clínicos nos quais os doentes receberam medicamentos falsos (placebos), posteriormente são informados de que tomaram placebo. Depois de transmitir essa informação, era esperado que o efeito placebo deixasse de existir ou pelo menos diminuísse de intensidade. Pelo contrário, os efeitos positivos permanecem e muitos doentes querem continuar a tomar o “medicamento”!
Não funciona apenas com medicamentos
As mulheres geralmente ficam embriagadas mais facilmente que os homens. Mas na verdade, para ficar embriagado não é necessário álcool nenhum. Vários estudos demonstraram que quem acredita que ingeriu álcool (mesmo que a bebida fosse não alcoólica), apresentam os mesmos sintomas da embriaguez e têm realmente o estado mental alterado. Ou seja, têm prestações piores em testes simples e um QI mais baixo, como se estivessem realmente bêbados.
Qual é a importância do efeito placebo para o doente?
Na prática médica, o efeito placebo pode ser útil, pois esses efeitos podem ser benéficos para o doente. Se dermos um medicamento que realmente funciona mas reforçarmos o efeito placebo (as expetativas relativamente ao tratamento) poderemos obter melhores resultados. Isto depende de uma boa relação médico-doente. Se essa boa relação não existir, pode ocorrer um efeito placebo negativo que prejudique a adesão ao tratamento, exagere os efeitos negativos e diminua efeitos positivos do tratamento.
E as “medicinas alternativas”?
As medicinas alternativas são tratamentos que se baseiam em procedimentos sem validade científica. No entanto, a grande maioria beneficia do efeito placebo. O caso mais paradigmático é a Homeopatia. O tratamento homeopático consiste em fornecer ao doente doses extremamente diluídas de substâncias que, segundo os homeopatas, são os causadores dos sintomas. Este efeito é maior quanto mais diluído for a substância…ou seja, quanto menos substância, maior a eficácia !?
Está mais do que comprovado que esta medicina alternativa funciona exclusivamente na base do efeito placebo. Realmente existem doentes que se vão sentir melhor, mas isso depende mais da relação que o homeopata estabeleceu com o doente e da forma como lhe prescreveu o produto.
Significa que os médicos têm que estar sempre atentos à qualidade da relação com o doente, à forma como explicam a doença e os seus sintomas e como introduzem os medicamentos.
No próximo artigo, iremos falar porque é que não deve, na maioria das vezes, ler a bula dos medicamentos.
É na boa relação médico-doente e na qualidade dos serviços prestados que a PT Medical coloca mais ênfase. Conheça os nossos serviços e experimente.
– Dr. João Júlio Cerqueira – Especialista em Medicina Geral e Familiar –