Introdução
Quando as pessoas vão ao médico constipados ou engripados, uma das grandes preocupações que costumam verbalizar é o medo de terem uma pneumonia.
A pneumonia consiste numa infecção, habitualmente causada por bactérias, dos pulmões. Como costumamos dizer, uma infeção das vias aéreas inferiores.
O doente que apresenta pneumonia pode apresentar sinais e sintomas como:
- Febre;
- Tosse, habitualmente com expectoração;
- Falta de ar /dispneia e alteração da frequência respiratória com uma saturação de oxigénio baixa (mas nem sempre);
- Alteração da frequência cardíaca e dos valores de pressão arterial.
Nos idosos e nas crianças não é fácil o diagnóstico, uma vez que os quadros clínicos são mais inespecíficos. Nestas idades, a apresentação pode ser apenas sob a forma de prostração, irritabilidade, mal-estar geral e perda de apetite.
Assim, é importante a avaliação objectiva pelo médico.
Os Diferentes Tipos de Pneumonia
Existem diferentes tipos de pneumonia e é importante perceber as diferenças, tendo em consideração que a sua gravidade também é diferente:
– Pneumonia Adquirida na Comunidade – é a pneumonia mais comum. É habitualmente provocada pelas bactérias como o Streptococcus pneumoniae (o mais comum), Haemophilus influenzae e Mycoplasma pneumoniae. Seguindo-se os agentes Staphylococcus aureus, Legionella species, Moraxella catarrhalis e Chlamydia pneumoniae. Os vírus também podem causar este tipo de pneumonia, sendo responsáveis por cerca de 15% dos casos.
– Pneumonia Adquirida no Hospital ou Nosocomial – estão em risco de ter este tipo de pneumonia os doentes internados no hospital, que tiverem alta hospitalar há pouco tempo, que vivem em instituições como lares, entre outras) – os agentes envolvidos são agentes mais agressivos, sendo comum a existência de resistências antibióticas. Por essa razão, pode ser necessário o tratamento com antibióticos de largo espectro, que só podem ser administrados em contexto hospitalar.
– Pneumonia por Aspiração – é uma pneumonia que aparece após aspiração de conteúdo alimentar. É mais frequente em utentes dependentes e/ou acamados, que tiveram um AVC, têm doenças neuromusculares, diminuição do estado de consciência, patologia do esófago ou uma higiene dentária precária.
– Pneumonia de doentes imunocomprometidos – são pneumonias atípicas, provocadas por diferentes tipos de organismos, incluindo parasitas e fungos, para além dos vírus e bactérias habituais. Ocorre em doentes com VIH, com doença oncológica, entre outros.
Exames que Poderão ser Úteis
Nos casos de pneumonia adquirida na comunidade e sem critérios de gravidade, não há necessidade de ser realizado qualquer exame complementar de diagnóstico e o médico pode iniciar um tratamento antibiótico imediatamente.
Nos restantes casos, associados a maior gravidade e utentes de risco como os referidos anteriormente, o estudo analítico com hemograma, parâmetros sugestivos de infeção, serologias, radiografia do tórax e, em certos casos, a análise microbiológica das secreções respiratórias e do sangue pode ser valiosa para a confirmação diagnósitca e direcionamento terapêutico.
Como se vê a Gravidade da Pneumonia?
Existem várias escalas para avaliar a gravidade da pneumonia.
Em contexto hospitalar, poderá ser aplicada a escala CURB-65, um acrónimo cujo significado apresentamos abaixo:
- Confusão
- Ureia: Níveis superiores a 43mg/dl.
- Respiração: Frequência Respiratória maior que 30 ciclos por minuto.
- Pressão arterial sanguínea (Blood pressure): sistólica menor a 90 mmHg ou diastólica menor a 60 mmHg
- Idade maior ou igual a 65 anos.
Fora do contexto hospitalar (centro de saúde, consulta ao domicílio), aplica-se o CRB-65 – são os mesmos critérios, sem considerar os níveis de ureia, devido à falta de acesso a análises sanguíneas no momento da avaliação.
Quantos mais critérios forem somados, maior a gravidade e a necessidade para internamento hospitalar.
O Tratamento da Pneumonia
O tratamento passa, acima de tudo, pela administração de antibióticos (seja pela via oral ou endovenosa, consoante o caso).
Poderá ser necessária a administração de oxigénio para manutenção de uma saturação de oxigénio estável, hidratação por via oral ou endovenosa (se perda de apetite, desidratação ou em caso de choque) e, eventualmente, medicação para alívio das dores.
Sr. Doutor, Isto Pode Deixar Sequelas?
Em alguns casos, a pneumonia pode estar associada a derrame pleural, a um empiema (uma colecção de pus), a um abcesso pulmonar, pericardite (inflamação do tecido que envolve o coração), miocardite (inflamação do músculo cardíaco), sépsis (infeção generalizada), devendo-se vigiar atentamente os doentes que não evoluem de forma favorável.
Posso Fazer Alguma Coisa Para Evitar Estas Infecções?
Existe uma vacina anti-pneumocócica (contra estirpes do agente infeccioso mais frequente – Streptococcus pneumoniae) que deve ser recomendada e administrada a grupos de risco:
- Idosos com mais de 65 anos;
- Doentes com doenças crónicas como a diabetes;
- Doentes imunodeprimidos;
- Doentes esplenectomizados, ou seja, que removeram o baço.
Hoje em dia, as crianças também já são vacinadas com uma vacina contra esta bactéria, a Prevenar 13, que poderá, em breve, ser incluída no plano nacional de vacinação.
Mitos e Verdades sobre Pneumonia
Se eu apanhar uma corrente de ar posso apanhar uma pneumonia – MITO
Se eu andar descalço posso estar mais susceptível a uma infeção respiratória – MITO
Devo beber líquidos (cerca de 1,5l/dia) à temperatura ambiente para uma boa hidratação e tornar as secreções mais fluídas e fáceis de expectorar. – VERDADE
Se eu andar de cabelo molhado, arrisco-me a ter uma pneumonia – MITO
Devo beber líquidos muitos quentes ou muito frios para a melhorar – MITO
A pneumonia como é provocada maioritariamente por vírus ou bactérias pode ser contagiosa – VERDADE
A higiene das mãos e a evicção de contacto próximo com pessoas com pneumonia pode prevenir o seu aparecimento – VERDADE
– Dra. Ângela Soares – Especialista de Medicina Geral e Familiar –