Apesar de ser o método contraceptivo mais utilizado na atualidade, ainda subsistem imensas dúvidas por esclarecer.
A PT Medical deixa a resposta sobre as 10 principais dúvidas que surgem em consulta. A pílula abordada neste artigo é a pílula hormonal combinada.
1 – Vou começar a tomar a pílula. Em que dia devo começar?
A pílula deve iniciar-se no primeiro dia do ciclo menstrual.
Pode iniciar a pílula num dia diferente, no entanto, deve utilizar método contraceptivo adicional (preservativo) nos primeiros 7 dias.
2 – A pílula é 100% eficaz?
A pílula combinada e a pílula com progestativo têm ambas uma eficácia de 99.7%, se tomadas corretamente, sendo dos anticoncepcionais mais eficazes. Não existem métodos anticoncepcionais 100% eficazes.
3 – Esqueci-me de tomar um comprimido. Posso engravidar?
O esquecimento da toma é um dos fatores que mais contribui para a falha do método.
No entanto, a altura do ciclo em que se esquece de tomar a pílula tem interferência diferente na probabilidade do método falhar.
Falhou um comprimido: Tomar logo que possível; pode tomar 2 pílulas no dia seguinte. Não precisa de usar métodos contraceptivos adicionais.
Falhou dois comprimidos na primeira semana: usar contracepção adicional nos 7 dias seguintes; se teve relações sexuais desprotegidas, usar contracepção de emergência.
Falhou dois comprimidos na segunda semana: usar contracepção adicional nos 7 dias seguintes; não é necessário usar contracepção de emergência se os comprimidos da primeira semana foram correctamente tomados.
Falhou dois comprimidos na terceira semana: terminar a embalagem e iniciar de imediato outra; usar contracepção adicional nos primeiros 7 dias.
4 – Posso tomar a pílula continuamente, sem fazer pausas?
É possível fazer a toma contínua da pílula. Alguns profissionais recomendam essa opção por melhorar a adesão ao anticoncepcional. No entanto, se não existirem comprimidos placebo nas carteiras (ou seja, todos os comprimidos têm hormonas), poderá não se verificar a ocorrência de menstruação, o que pode ser encarado como algo de anormal pela mulher.
No entanto, a não ocorrência de menstruação não tem qualquer tipo de implicação na fertilidade a longo prazo, poderá ser da preferência de algumas mulheres e ter um impacto benéfico nalgumas situações clínicas.
5 – Comecei a tomar a pílula e agora perco sangue todos os dias!
O termo técnico do seu problema é “spotting”. É algo que acontece com alguma regularidade, atingindo entre 10 a 30% das mulheres que utilizam a pílula. Pode ter diversas causas e é importante verificar:
- Se a toma da pílula é regular e sem falhas;
- Se existe medicação associada que pode interferir com a pílula;
- Se há história de infecção recente;
- Se existência de outro tipo de doença orgânica.
Se nenhuma das situações anteriores está presente e o “spotting” persiste para além de três ciclos menstruais é aconselhado mudar para uma pílula com uma dosagem de estrogénios mais elevada.
6 – A pílula serve apenas para não engravidar?
A pílula tem inúmeras vantagens para além de impedir a gravidez não desejada:
- Regulariza os ciclos menstruais;
- Reduz a dor menstrual;
- Reduz a síndrome pré-menstrual;
- Reduz o fluxo menstrual em média 43% e previne a anemia;
- Reduz os quistos funcionais;
- Pode ajudar a melhorar os sintomas de algumas doenças que agravam na altura da menstruação.
- Diminui o risco de cancro do ovário – a pílula combinada associa-se a uma diminuição de 40% do risco de tumores malignos e borderline epiteliais do ovário. Esta protecção está descrita mesmo com utilizações de curta duração (3 a 6 meses) e aumenta com a duração do uso. O efeito prolonga-se pelo menos 15 anos após a suspensão da pílula;
- Diminuição do risco de cancro do endométrio – a pílula combinada diminui em 50% o risco de adenocarcinoma do endométrio. A proteção persiste por mais 20 anos após o abandono da pílula. O efeito protector é diretamente proporcional com a duração da toma e é maior quando a toma foi superiores a 3 anos;
- Diminuição do risco de cancro colorrectal – a pílula combinada associa-se a diminuição de 18% na incidência de cancro colorrectal. A redução de risco é maior nas utilizadoras recentes e independente do tempo de uso;
- Atua na prevenção da doença inflamatória pélvica (DIP)/salpingite;
- Ajuda a prevenir a endometriose;
- Diminui a ocorrência de gravidez ectópica;
- Reduz a incidência e gravidade de sintomas de fibromioma uterino;
- Melhora os sintomas vasomotores da perimenopausa;
- Aumenta a densidade mineral óssea na perimenopausa;
- Reduz a incidência e severidade da acne;
- Reduz o crescimento do pêlo, importante em distúrbios como o hirsutismo.
7 – Se tomar a pílula durante muitos anos, posso ficar infértil?
Não existe qualquer relação conhecida entre o uso da pílula e infertilidade.
8 – A partir de que idade posso começar a tomar a pílula?
A idade não constitui contra-indicação à utilização de qualquer método contraceptivo, incluindo a pílula.
9 – A pílula engorda?
A pílula pode provocar ligeiras variações de peso nas mulheres que iniciam o uso (entre 1 a 2Kg). No entanto, ganho de peso superior a estes valores dificilmente será causado pela pílula.
10 – O meu médico diz que eu não posso usar a pílula. É verdade?
A pílula tem várias contraindicações para a sua utilização. Neste artigo, referimos as contraindicações absolutas à utilização da pílula combinada:
- Hemorragia genital de etiologia não esclarecida – Se existe suspeita de gravidez ou de patologia orgânica maligna. Caso estas condições não estejam presentes, a sua utilização pode ser ponderada;
- Hipertensão mal controlada, com Sistólica ≥ 160 ou diastólica ≥ 90 mmHg; ou hipertensão com doença vascular associada;
- Fumadora com Idade > 35 anos e ≥ 15 cigarros por dia;
- Índice de massa corporal (IMC) ≥ 40 Kg/m2;
- Tromboembolismo venoso: Episódio agudo de trombose venosa; História pessoal de trombose venosa. Cirurgia major com imobilização prolongada; Trombofilias (factor V de Leiden, mutação da protrombina, défices de proteína C, S e antitrombina);
- Doença cardiovascular: Doença coronária; História de enfarte cardíaco; Patologia valvular cardíaca complicada; Associação de múltiplos factores de risco cardiovasculares. História pessoal de acidente vascular cerebral (AVC) ou acidente vascular transitório (AIT);
- Outras doenças vasculares: Doença de Raynaud com anticoagulante lúpico positivo; Lúpus eritematoso sistémico com anticorpos antifosfolípidos.
- Diabetes com presença de nefropatia, retinopatia, neuropatia ou outras complicações vasculares.
- Doença do fígado: Hepatite viral aguda; Cirrose hepática descompensada; Adenoma hepático; Carcinoma hepático.
- Enxaqueca: Enxaqueca com aura, independentemente da idade; Enxaqueca sem aura em mulheres com mais de 35 anos . Mulheres com enxaqueca que utilizem a pílula combinada têm um aumento de risco de AVC (2 a 4 vezes).
- Cancro da mama.
Se existirem outras dúvidas que gostaria de esclarecer, coloque-as nos comentários. Teremos todo o prazer em responder.
E já sabe, se precisar de uma consulta médica, conte com a PT Medical.
– Dr. João Júlio Cerqueira – Especialista em Medicina Geral e Familiar –