Introdução
Apesar da maioria das pessoas que estudam o mito dos vampiros se concentrarem nas raízes culturais, alguns historiadores têm procurado as suas origens médicas.
Não há nenhuma evidência científica de que os vampiros existam, mas há um certo número de condições médicas que podem provocar comportamentos similares.
Uma das mais interessantes ” doenças de vampiros ” é a Porfiria.
A porfiria é uma doença rara caraterizada por irregularidades na produção do heme, uma molécula necessária ao transporte de oxigénio no sangue. Devido a essas irregularidades, existe um aumento das porfirinas circulantes que se acumulam no organismo.
Pessoas com as formas mais graves de porfiria podem apresentar todas as caraterísticas associadas aos vampiros.
São altamente sensíveis à luz solar, podendo mesmo levar ao aparecimento de úlceras na pele com a exposição contínua.
Devido às irregularidades de produção do heme, as pessoas que padecem desta doença sofrem de anemia, o que torna a sua pele pálida (caraterística também associada aos vampiros).
Alguns doentes, principalmente as crianças, podem apresentar a boca e dentes avermelhados, devido à produção e deposição das porfirinas que lhes concede essa cor.
Um dos possíveis tratamentos utilizados no passado na porfiria passava por beber sangue para corrigir os desequilíbrios no organismo (apesar de não haver evidências concretas que isto acontecia).
É interessante saber que estes doentes têm uma intolerância a alimentos com grande conteúdo de enxofre….como é o caso do alho.
Além disso, podendo ser uma doença hereditária, é provável que tenham existido concentrações de doentes em certas áreas geográficas ao longo da história, dando origem aos conhecidos ninhos de vampiros e à criação dos mitos nesses locais.
A porfiría pode estar associada a distúrbios mentais, incluíndo alucinações, delírios e paranóia. A existência de comportamentos impróprios por parte dos doentes poderá ter contribuído para a criação do “monstro”.
Outra doença que provavelmente contribuiu para criar o mito dos vampiros é a catalepsia.
É uma condição física peculiar associada a distúrbios epilépticos, distúrbios do sono, esquizofrenia e outras doenças do foro mental.
Durante um episódio cataléptico, o paciente sofre uma paralisia de todos os músculos, ficando impossibilitado de se mover ou mesmo falar. Embora continue consciente, com todos os sentidos a funcionar e funções vitais normais (embora desaceleradas), alguém que sofre de catalepsia aguda pode muito bem ser confundido com um cadáver.
Hoje, os médicos têm o conhecimento e as ferramentas adequadas para determinar com precisão se alguém está vivo ou não mas, no passado, as pessoas tomavam essa decisão com base na aparência.
Um episódio cataléptico pode durar muitas horas , até mesmo dias, o que permitiria tempo suficiente para um enterro. Quando a pessoa voltava a si própria, poderia ter sido capaz de escavar e sair da campa e voltar para casa…ou seja, conseguiria “regressar do mundo dos mortos”.
Se a pessoa sofresse de um distúrbio psicológico, como a esquizofrenia, a exibição de comportamentos estranhos e perturbadores associados aos vampiros poderiam ter ocorrido.
A necessidade de explicar o que muitas vezes não temos capacidade para perceber, pelo menos no imediato, ajudou à criação de mitos, lendas e monstros.
Felizmente, apesar de ainda haver muito a fazer, hoje em dia conseguimos providenciar o apoio e tratamento que estas pessoas merecem…acima de tudo, através do conhecimento médico, conseguimos evitar a exclusão social destes doentes.
– Dr. João Júlio Cerqueira – Especialista de Medicina Geral e Familiar –