Introdução
Os Ataques de Pânico são episódios repentinos de extrema ansiedade e medo, estando presentes sintomas físicos e psicológicos.
A maioria dos episódios não dura mais do que 5 a 30 minutos (raramente 1 hora), sendo que atinge o pico máximo por volta dos 10 minutos.
Muitas vezes não se consegue perceber imediatamente qual foi o motivo de tal ocorrência. Além disso, os ataques de pânico podem acontecer durante o sono (ataques de pânico noturnos) ou em alturas de descanso, tornando estes episódios ainda mais incompreensíveis para os doentes.
A acrescentar, existem também os Ataques de Pânico sem componente psicológico (ataques de pânico sem medo), estando presentes apenas sintomas físicos, como as palpitações, aumentando a complexidade desta doença.
É um problema frequente?
A doença parece atingir 1.5 a 6% da população, dependendo do que estivermos a avaliar.
Atinge mais as mulheres (2x mais frequente) no final da adolescência e entre os 30-40 anos de idade.
Parece existir uma grande incidência familiar, ou seja, se existir um familiar de 1º grau (mãe, pai, irmão…) com história de ataques de pânico ou perturbações psicológicas similares, então o risco de vir a sofrer deste problema é 4-7 vezes maior.
Sintomas do Ataque de Pânico
As pessoas que vivenciam um Ataque de Pânico têm pelo menos quatro dos seguintes sintomas durante o ataque:
- Ansiedade;
- Tremores;
- Boca seca;
- Suores;
- Sensação de batimento cardíaco acelerado (Palpitações);
- Dor no peito;
- Tonturas;
- Sensação de desmaio;
- Perda de controlo de si mesmo;
- Medo de morrer;
- Desorientação no tempo e no espaço.
A perpetuação dos Ataques de Pânico é o grande problema desta doença…as crises levam ao receio do aparecimento de novas crises no futuro (ansiedade antecipatória) e pode mesmo levar ao evitamento de situações ou locais onde ocorreram os ataques, ou onde ter um ataque possa ser perigoso ou inconveniente (agorafobia).
No livro PÂNICO, FOBIAS E OBSESSÕES de Valentim Gentil Filho e Francisco Lotufo Neto, existe uma descrição muito detalhada do que é sentir um ataque de pânico:
Um ataque de pânico espontâneo, inesperado e intenso pode ser uma experiência avassaladora. A pessoa está bem e sem maiores preocupações quando percebe algo indefinido mas claramente ameaçador.
Uma sensação inesperada de falta de ar, tontura, balanço, flutuação ou alteração da perceção visual, pronunciam um eminente risco de vida, perda da razão ou consciência, o que nunca ocorre. (…) As mãos gelam e ficam húmidas, o coração acelera e bate forte, a respiração fica difícil, rápida e não satisfaz, como se o ar não atingisse a profundidade dos pulmões, como se houvesse eminente sufocação.
O medo e ansiedade são crescentes acompanhados da certeza de que algo estranho e muito grave está acontecendo. Formigam as extremidades ou o couro cabeludo, adormecem os lábios e a sensação de líquido fervente nas veias não é rara. Ondas de calor ou frio e suor são frequentes inclusive em ondas subindo das coxas para a cabeça. Além de um leve tremor visível nas mãos, ocorre um estranho e caraterístico tremor interno, mais propriamente uma trepidação, sentida mas não observável nos músculos, chegando até aos ossos, parecida com calafrios como se o corpo estivesse sobre um vibrador, podendo ocorrer sensação de despersonalização ou desrealização.
A boca fica seca e o paciente pode referir náusea ou, raramente, vómitos. São descritas urgências para urinar ou o intestino solto. Tudo ocorre em segundos ou minutos. O indivíduo procura ajuda e pode desesperar. A crise, geralmente, passa em 20 a 40 minutos e é seguida de uma sensação de cansaço, fraqueza, pernas bambas, como após um esforço físico intenso, ou um grande susto. Depois de chorar, descansar ou dormir um pouco, o paciente volta ao normal, como se nada houvesse acontecido.”
O pânico gosta de companhia
Associado a este problema, é muito comum encontrarmos outros problemas psicológicos como:
- Agorafobia (30-50%);
- Perturbações Depressivas (até 68%);
- Outras Perturbações da Personalidade (até 50%);
- Abuso de álcool e outras drogas (até 30%);
- Perturbação bipolar (20%);
- Condições médicas associadas (hipertensão, doenças cardíacas, etc).
Tratamento dos Ataques de Pânico
O tratamento tem um componente psicológico e farmacológico. A associação dos dois tratamentos é superior ao obtido com cada um dos métodos isoladamente.
Intervenção psicológica
A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC ) é o tratamento recomendado para as pessoas que sofrem de Perturbação do Pânico .
A TCC tem como principal objetivo a reestruturação cognitiva, identificando e modificando os padrões de pensamentos negativos e equívocos que alimentam os Ataques de Pânico.
Durante a TCC ensinam-se os procedimentos a realizar durante um episódio de pânico (relaxamento, respiração) e a mudança dos pensamentos disfuncionais. São planeadas metas a serem alcançadas semanalmente e é fundamental que entre as consultas a pessoa aplique as técnicas apreendidas, de forma a obter resultados positivos num curto espaço de tempo.
A criação de um Diário vai ajudar a que fique consciente em que momento começou a sentir os sintomas e quais foram os pensamentos associados, podendo observar também as suas melhorias ao longo do tempo, com maior espaçamento entre os ataques.
Intervenção farmacológica
Os SSRIs, mais conhecidos como antidepressivos (Paroxetina, Fluvaxamina, Escitalopram, Sertralina) são os fármacos recomendados, com efeitos terapêuticos em 3-8 semanas. As benzodiazepinas, conhecidas como calmantes podem ser utilizadas quando existem sintomas que assim o justifiquem (sintomas graves, frequentes e incapacitantes); usam-se durante 1 a 2 semanas em combinação com os SSRIs e depois retiram-se lentamente.
Dicas úteis
Está tudo na sua cabeça…
Como referido, durante um ataque experimenta-se toda uma gama de sintomas assustadores e pensamentos preocupantes, que se vão intensificando ao longo do episódio. Identificar os sinais e conseguir lidar com os primeiros sintomas é fundamental para ultrapassar positivamente o episódio.
Crie o seu próprio plano para quando começar a sentir os sintomas de ansiedade.
Durante um Ataque de Pânico lembre-se:
- As suas emoções são normais, o que sente é só causado pela ansiedade e vão passar;
- Enfrente o medo;
- Afaste os pensamentos negativos e assustadores;
- Aceite o que está a acontecer e pense de forma racional.
Lembre-se de respirar!
Durante um episódio de pânico a pessoa normalmente hiperventila, ou seja, respira demasiado rápido, entrando demasiado oxigénio no organismo num curto espaço de tempo.
A Hiperventilação vai agravar a situação devido ao aparecimento de sensações desagradáveis, como a sensação de desmaio, tremores, formigueiro, dificuldades em respirar, sintomas estes que se confundem com o Ataque de Pânico, criando assim um ciclo vicioso de Pânico – Hiperventilação – Pânico.
É muito importante controlar a respiração e quebrar este ciclo.
Durante um Ataque de Pânico concentre-se na respiração lenta e profunda, fazendo ciclos respiratórios (inspiração – expiração) com duração de pelo menos 15 segundos.
Aprenda a relaxar!
Como referido, existe uma ansiedade, preocupação e stress constante relativamente a quando poderá ocorrer o próximo episódio.
Aprender a relaxar, o que não é tão fácil quanto parece, pode ajudar a aliviar o stress e a tensão, e ajudá-lo a lidar mais eficazmente com estes acontecimentos.
O exercício físico regular, especialmente aeróbio (correr, fazer natação, jogar ténis, andar de bicicleta), ajuda a gerir os níveis de stress e tensão e aumentar a sua confiança. A realização de terapias complementares como massagem, yoga e pilatos podem ser úteis para relaxar.
E lembre-se de nós, caso precise de ajuda.
– Dra. Ermelinda Pires – Psicóloga –
– Dr. João Júlio Cerqueira – Especialista de Medicina Geral e Familiar –