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Síndrome do Cuidador – Como Combater Este Problema?

Introdução

A população está a envelhecer…é um facto inegável. Segundo o Oxford Institute of Population Ageing, estima-se que em 2030 cerca de 60% do total dos portugueses vão ter mais de 40 anos de idade. No ano 2050, 80% da população portuguesa será envelhecida e dependente.

Também é um facto que o envelhecimento traz consigo doenças com um grande “fardo” económico e social, como o caso das demências, problemas cardiovasculares e problemas psiquiátricos. Com estas doenças vem a perda de autonomia, as limitações funcionais e as dificuldades de toda a família gerir esta nova fase de vida do idoso, sendo incapaz de tomar conta de si próprio e necessitando da ajuda de terceiros.

Muitas vezes, este “fardo” recai sobre os filhos e os netos, que são “obrigados” a ajustar toda a sua vida no sentido de cuidarem dos seus entes queridos. Por muito amor que os filhos ou netos tenham pelos seus familiares, esta é uma tarefa muito exigente, extenuante, sendo um “trabalho a tempo inteiro”.

Partilhando um pouco da minha experiência na prestação de cuidados ao domicílio, apenas posso dizer que esta situação familiar é extremamente difícil…principalmente quando as pessoas não têm os apoios devidos e não encontram alternativas na sociedade para os ajudarem a lidar com esta condição. Infelizmente, o SNS não está preparado para dar resposta a esta problemática de uma forma eficaz, levando ao surgimento frequente de um desgaste físico e mental dos cuidadores…o chamado síndrome do cuidador.

O que é a Síndrome do Cuidador?

sindrome do cuidador - como combater este problema

A  Síndrome do Cuidador ocorre quando a dedicação dos familiares ou cuidadores externos superam certos limites, levando ao surgimento do stress, ao esgotamento físico e psicológico. Pouco a pouco, o cuidador transforma a sua vida na do doente e os problemas dele nos seus.

Tudo começa com o assumir de uma responsabilidade…cuidar de alguém dependente. Essa responsabilidade transforma-se num trabalho de 24 horas, com poucos momentos de folga, obrigando muitas vezes ao abandono temporário ou definitivo da profissão que o cuidador exercia anteriormente. Esta dedicação a tempo inteiro pode também levar ao isolamento social, aumentando ainda mais a probabilidade de desgaste extremo.

Existe uma fase em que o cuidador, habituado a estar sempre disponível para cuidar do doente, assume um sentimento de culpa quando não o faz, criando-se um ciclo vicioso. O cuidador torna-se incapaz de delegar a terceiros, mesmo que temporariamente, a responsabilidade de cuidar do seu familiar.

Somando ao desgaste físico e psicológico, esta situação pode levar ao aparecimento de transtornos de ansiedade, depressãoperturbação de sono. Existe também uma perda progressiva da auto-estima…O tempo que o cuidador tem para se dedicar a si mesmo é incrivelmente reduzido, afetando suas relações pessoais e sociais. O seu humor muda, tornando-se mais susceptível a comportamentos impulsivos e é facilmente irritável.

Longe de ajudar, tudo isto prejudica tanto o cuidador quanto o paciente, podendo criar-se mesmo uma má relação entre o cuidador e o doente, dificultando ainda mais a prestação de cuidados. Instala-se uma ambiguidade de sentimentos, entre a necessidade e obrigação de cuidar do doente e a intolerância para com a pessoa que necessita de cuidados.

O que podemos fazer?

É importante detectar a aparecimento deste problema e preveni-lo. Como explicado anteriormente, este é um trabalho a tempo inteiro. Além disso, obriga a determinadas aprendizagens na área da saúde e a um nível de organização pessoal complexo para não colocar em causa a “vida para lá do cuidar”.   É importante conseguir dividir as tarefas com outras pessoas amigas ou familiares, por forma a evitar a sobrecarga.

Este será possivelmente o ponto mais importante. É preciso que o cuidador evite, de todas as maneiras possíveis, anular a sua vida social. É fundamental manter algumas horas de lazer e de tempo livre, para desligar e conseguir “recarregar baterias”. Só desta forma conseguirá manter a função que exerce de uma forma saudável.

Se existe a perspectiva de que vai assumir o papel de cuidador por um tempo prolongado, é importante tentar procurar apoios e recursos externos para ajudar a assumir esta situação. Nem sempre essa alternativa está à disposição do cuidador, mas é necessário tentar pedir ajuda para evitar os transtornos emocionais originados por este trabalho.

O cuidador precisa de momentos para cuidar de si mesmo, ou para que outras pessoas cuidem dele. Caso não seja assim, aqueles que realizam esta função acabarão, mais cedo ou mais tarde, por assumir também o papel de doente. Devemos cuidar do cuidador. Aquele que cuida é, também, aquele que merece mais cuidados.

A PT Medical desenvolveu um serviço de apoio domiciliário a pensar nas necessidades dos cuidadores e daqueles que necessitam de cuidados…estamos disponíveis, em todo o país, seja para cuidados pontuais ou permanentes.

– Dr. João Júlio Cerqueira  Especialista de Medicina Geral e Familiar – 

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