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Sr. Doutor, Queria Fazer os “Exames de Rotina”! – Parte 5

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E o rastreio oncológico?

Como é sabido o rastreio do cancro da mama, colo do útero ou colorretal podem diminuir a mortalidade por cancro.

A remoção de um pólipo através de uma colonoscopia permite evitar uma evolução para neoplasia.

O tratamento das lesões precursoras detetadas pela citologia cervico-vaginal (conhecido como papaniculau) podem prevenir o cancro do colo do útero.

Como resultado da crescente divulgação e organização dos serviços de saúde as taxas de rastreio têm aumentado ao longo do tempo. No entanto, os resultados não correspondem às expectativas.

Estudos recentes não verificaram qualquer alteração da sobrevida no que respeita ao rastreio do cancro da mama e apenas uma ligeira tendência de queda para o rastreio do cancro do colorretal.

Por outro lado, a mortalidade pelo cancro do colo do útero foi fortemente diminuída pelo rastreio generalizado.

Além desta modesta vantagem existem ainda os danos associados ao rastreio, que não devem ser descorados. Esses danos incluem a ansiedade produzida pelos falso-positivos, danos associados com testes de diagnóstico depois de um teste de triagem positivo e ainda o risco de um sobrediagnóstico de condições que são tratadas, mas que nunca iriam trazer problemas para o doente.

Face a todas estas considerações que têm surgido nos últimos tempos, várias recomendações mudaram, defendendo-se atualmente uma triagem menos frequente ou menos intensa.

Nestes parâmetros, inclui-se o exemplo do cancro da mama (frequência alterada para a cada dois anos) e cancro cervical (idade de início alterado para mais de 21, com uma frequência a cada três anos para citologia quando dois são normais).

Para o rastreio do cancro colorretal, sabe-se que os testes fecais sensíveis juntamente com sigmoidoscopia são tão benéficos como a colonoscopia, com menos danos potenciais.

E quando parar o rastreio?

Várias orientações também se têm debruçado sobre a idade ideal para parar os rastreios:

  • Benefícios no caso do cancro da mama incertos após 75 anos;
  • Benefícios para o cancro colorretal reduzidos entre os 75 anos e os 84 e poucos benefícios após 85 anos;
  • Quanto ao cancro do colo do útero, pode-se parar depois de 65 anos desde que previamente negativo.

Os pacientes podem ficar confusos com essas mudanças. Qual a melhor forma de explicar a razão de triagem menos intensiva ou descontinuação, é um desafio clínico.

A reorientação do doente para outras atividades de prevenção que trazem uma maior probabilidade de benefício em termos de saúde e longevidade parece ser mais apropriado.

“Rastreios” em fim de vida

A ideia de que os programas de rastreio podem ser prejudiciais poderá suscitar alguma confusão aos doentes. Um dos casos mais flagrantes é, por certo, os métodos de rastreio em idade avançada, invariavelmente mais sujeito a danos (mais falsos-positivos, intervenções excessivas e sobrediagnóstico) com pouco ou nenhum benefício adicional.

Outros exemplos são os procedimentos de diagnóstico (por exemplo, biopsias) ou o próprio tratamento (por exemplo, quimioterapia para o cancro da próstata, que não teria sido clinicamente aparente ao longo da vida do paciente).

Nestes doentes em idade avançada, o objetivo primordial deve reger-se pela esperança de vida de cada idoso que nos passa pela consulta. Para idosos com expectativa de vida limitada, a decisão deve ser partilhada, com o idoso e a sua família, permitindo que o doente faça perguntas e torne-se, ele também, um elemento da equipa que decide qual a melhor intervenção diagnóstica/terapêutica.

Conclusão

Não há diretrizes rígidas para a frequência ideal das visitas ao médico e nenhuma evidência relativamente às recomendações de intervalos ideais dos rastreios.

Exames anuais não são indicados para a maioria dos pacientes mais jovens, embora as pessoas com problemas crônicos de saúde (como diabetes, hipertensão, DPOC) beneficiem com as visitas regulares, independentemente da idade.

Na ausência de tais indícios, sugerimos a manutenção periódica da saúde a cada três anos para pacientes adultos ≤ 49 anos sem doenças crônicas, e anualmente para adultos com 50 anos ou mais.

O que fazer?

Dois princípios gerais são úteis para decidir quais os serviços preventivos a priorizar na consulta:

1. Começar com a condição clínica (não pelo teste ou intervenção), identificando as condições que causam a maior carga de sofrimento aos doentes.

2. Para condições específicas, priorizar os serviços de prevenção que têm demonstrado eficácia no paciente.

Perante a necessidade de consultar um médico, simplesmente porque há muito tempo não o faz, ou porque existe alguma coisa que o preocupa, a consulta deve ser realizada tendo em conta essas mesmas queixas ou dúvidas. Deve ser centrada no doente como um “todo” e não apenas na doença ou na sua ausência. A necessidade de fazer exames auxiliares de diagnóstico deve ser avaliada pelo médico, dependendo do doente que tem à sua frente: Tem queixas? Tem alguma doença conhecida ou na família? Quais são os seus hábitos?

Realmente existem exames incutidos na sociedade como imprescindíveis ao cidadão saudável mas que apenas apresentam benefício perante determinadas circunstâncias patológicas.

Mensagem final: “Mais vale prevenir que remediar (curar) – quando prevenir faz menos mal do que curar”.

Evitar as atividades curativas e preventivas desnecessárias é também fazer prevenção.

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– Dra. Joana Carneiro  Especialista de Medicina Geral e Familiar –

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