Introdução
São frequentes as consultas em que um adulto saudável questiona o seu médico sobre a necessidade de fazer “exames de rotina” e “rastreios”. Durante a próxima semana iremos publicar pequenos artigos para elucidá-lo quanto ao verdadeiro valor destes meios complementares de diagnóstico e de rastreio, consoante diferentes contextos da prática clínica.
Várias questões complexas estão envolvidas na prestação de cuidados preventivos eficazes. Os médicos precisam decidir sobre as prioridades para os muitos serviços preventivos disponíveis: o que recomendar para os seus pacientes e o que desencorajar para evitar danos resultantes de testes ou intervenções inadequadas.
Partindo de uma perspetiva generalista, um exame médico só deve ser requisitado se tiver mais benefícios do que riscos para o doente.
O seu resultado só é útil se houver depois, uma mudança de comportamento ou se for possível atuar sobre o seu resultado.
Nas últimas décadas tem-se assistido a este novo fenómeno na área da saúde, que é a generalização do conceito “check-up”. A globalização deste termo fez-se e continua a ser feito, em grande parte, pelas grandes empresas de saúde privadas que publicitam o produto através de inúmeras campanhas nos media oferecendo uma série de serviços médicos a preços convidativos.
No entanto, a evidência científica demonstra, cada vez mais que, esta abordagem de medicina preventiva “em massa” (também chamada rastreio de doenças assintomáticas) apresenta problemas potenciais, podendo mesmo causar prejuízo ao utente através de exames invasivos e tratamentos dispensáveis.
A par deste furor preventivo na área da saúde, surgiu a necessidade de desenvolver um outro conceito, que é o risco iatrogénico. Este termo define-se como o conjunto de ações – como é o caso da sobremedicalização, sujeição a procedimentos desnecessários, novas intervenções médicas inapropriadas que nada acrescentam ao utente – que podem mesmo causar dano à sua saúde.
Deixamos-lhe o primeiro mau exemplo
O caso mais discutido, à luz da evidência atual, é o “rastreio” do cancro da próstata através do doseamento do antigénio específico da próstata (PSA). Segundo as recomendações internacionais e da própria DGS, a determinação do PSA não deve ser prescrita para rastreio populacional de carcinoma da próstata (saber mais). Isto porque o rastreio de indivíduos assintomáticos tem pouca ou nenhuma interferência na mortalidade por carcinoma da próstata e está associado a tratamentos com efeitos nefastos, alguns desnecessários. É apenas consensual a recomendação da prescrição da determinação do PSA, juntamente com a palpação da próstata, a homens entre os 40 e os 75 anos, desde que os riscos e benefícios sejam previamente informados e discutidos com o doente.
– Dra. Joana Carneiro – Especialista de Medicina Geral e Familiar –