Aleitamento materno
O leite materno é um alimento completo e natural, apropriado para quase todos os recém-nascidos, salvo raras exceções. As vantagens do aleitamento materno são múltiplas, quer a curto, quer a longo prazo, existindo um consenso mundial de que a sua prática exclusiva é a melhor maneira de alimentar as crianças até aos 6 meses de vida. Se não for possível, o aleitamento materno exclusivo deverá ser mantido pelo menos até aos 4 meses de vida. A OMS recomenda a introdução de outros alimentos na dieta seja realizada apenas aos 6 meses mantendo, contudo, a amamentação parcial até ao segundo ano de vida. (Recomendação OMS)
O leite materno, quando comparado com o leite de vaca, apresenta:
- Menos proteínas e minerais;
- Mais vitaminas A, B12, C, D, E e K, gordura (úteis no desenvolvimento do sistema nervoso central);
- Probióticos;
- Ácidos gordos ómega 3;
- Macrófagos, linfócitos, imunoglobulinas;
- Pré-bióticos, que induzem a proliferação de bifidobactérias e lactobacilos, bloqueando a adesão de bactérias patogénicas ao epitélio intestinal.
Vantagens do aleitamento materno
O aleitamento materno protege as crianças de:
- Otites;
- Alergias;
- Vómitos;
- Diarreia;
- Pneumonias;
- Bronquiolites;
- Meningites.
O leite materno é ainda importante para o bebé porque:
- Proporciona um desenvolvimento psicomotor, sensorial e comportamental mais adequados;
- É de digestão mais fácil, adequando-se à imaturidade do sistema gastrointestinal do bebé;
- Reduz a incidência de colite necrotizante, de doença inflamatória intestinal e de diabetes mellitus;
- Reduz o risco de hipoglicemia entre mamadas relativamente aos bebés alimentados com leite adaptado;
- Reduz a incidência de obesidade no primeiro ano de vida;
- Amamentar promove o estabelecimento de uma ligação emocional, muito forte e precoce, entre a mãe e a criança, designada tecnicamente por vínculo afetivo. Um vínculo afetivo sólido facilita o desenvolvimento da criança e o seu relacionamento com as outras pessoas;
- O acto de mamar ao peito melhora a formação da boca e o alinhamento dos dentes.
Amamentar tem vantagens também para a mãe:
- A mãe sente-se mais segura e menos ansiosa;
- Amamentar faz queimar calorias e por isso ajuda a mulher a voltar, mais depressa, ao peso que tinha antes de engravidar;
- Ajuda o útero a regressar ao seu tamanho normal mais rapidamente;
- A perda de sangue depois do parto acaba mais cedo;
- A amamentação protege contra o cancro da mama que surge antes da menopausa;
- A amamentação protege contra o cancro do ovário;
- A amamentação protege contra a osteoporose;
- A amamentação exclusiva protege da anemia (deficiência de ferro). As mulheres que amamentam demoram mais tempo para ter menstruações, por isso as suas reservas de ferro não diminuem com a hemorragia mensal;
- Amamentar é muito prático! (Não é necessário esterilizar e preparar biberões e não é necessário levantar-se de noite para preparar o biberão).
Amamentar também é vantajoso para a família, por ser mais económico.
O Leite Materno corresponde às necessidades do lactente e adapta-se a elas com o decorrer do tempo. A produção adapta-se automaticamente à procura, o esvaziamento frequente e completo das mamas estimula a produção de leite, regulada pelas hormonas prolactina e oxitocina.
Quando se trata de um recém-nascido pré-termo (RNPT), a composição do Leite Materno é diferente, dado que é mais calórico, mais proteico, com mais teor de minerais e menos lactose. Contudo, apesar destas alterações, após o primeiro mês de vida, habitualmente, os RNPT necessitam, além de Leite Materno, de Leite Adaptado.
Decisão de amamentar
A decisão da futura mãe acerca da amamentação deverá ser tomada, idealmente, um período precoce da gravidez, não sendo remetida para o período após o nascimento do bebé. Uma vez tomada a decisão de amamentar é essencial proceder ao exame da mama com o objetivo de detetar possíveis anomalias, como mamilos retrácteis ou invertidos, que poderão afetar o sucesso da lactação.
No caso de terem sido detetados mamilos invertidos no período pré-natal, poderão ser feitas as manobras de Hoffman, que consistem na colocação de dois dedos diametralmente opostos às margens da aréola, exercendo depois tração no sentido centrífugo, alternadamente, segundo os diâmetros vertical e horizontal.
O objetivo desta manobra, a executar várias vezes por dia, podendo ser intensificada no terceiro trimestre, é desfazer as aderências da base do mamilo que contribuem para a sua umbilicação. Está contraindicada a utilização de tópicos irritantes como álcool ou sabão, que contribuem para a secura da pele e aparecimento futuro de fissuras. A partir do segundo trimestre de gravidez, o sutiã deverá ser mole e confortável.
Existem técnicas de preparação do mamilo para a lactação, que promovem o alongamento e elasticidade e que poderão ser utilizadas:
- Rolar o mamilo entre o polegar e o indicador várias vezes por dia;
- Expor ao ar os mamilos durante alguns minutos;
- Expressão diária de algumas gotas de colostro durante o terceiro trimestre da gravidez.
Fatores que contribuem para o insucesso da amamentação?
- Separação de mãe e filho após o nascimento;
- A imposição de um horário rígido para as mamadas;
- Implementação imediata do Leite Adaptado;
- Oferta do biberão à noite;
- Oferta de Leite Adaptado antes da alta hospitalar;
- Não respeito pela decisão da mãe de não amamentar.
Fatores que aumentam o sucesso da amamentação?
- Realização correta da técnica de amamentação pois permite a transmissão de confiança à mãe;
- Adoção de um horário livre, ou seja, amamentar quando o bebé demonstrar sinais de fome;
- Estimulação correta: sucção vigorosa e esvaziamento da glândula mamária;
- Primeira mamada no pós-parto imediato.
Técnica de amamentação
A amamentação deve ser realizada em ambiente calmo, com a mãe em posição confortável, sentada ou deitada.
Na posição de sentada a mãe deve estar sobre pequena almofada ou no sofá, apoiando os pés num pequeno banco com poucos centímetros do chão. O braço que sustenta a cabeça da criança deve também assentar numa superfície mole, como por exemplo, uma almofada. A cabeça da criança deve ficar no alinhamento da mama, com face voltada para a mãe. Com a mão livre, a mãe deve posicionar o polegar acima da auréola e o indicador abaixo, formando um ‘C,’ procurando tornar o mamilo mais procidente, para que o lactente o introduza na boca.
Para desencadear o reflexo da sucção, a mãe deverá passar o mamilo sobre os lábios do bebé, procurando não o introduzir bruscamente na boca (“bebé ao peito” e não “peito ao bebé”).
Quando um bebé começa a mamar na mama da mãe, o primeiro leite que obtém é mais rico em água e lactose, que é o açúcar do leite; à medida que a mamada prossegue, o leite vai tendo cada vez mais gordura. O que é importante é que o bebé esvazie uma mama em cada mamada; o bebé deve primeiro esvaziar a primeira mama e se depois de isso continuar com fome é que lhe é oferecida a segunda mama; sugar e esvaziar a mama é o segredo para uma maior produção de leite.
Durante a mamada é muito importante a ausência de stress, pois este é inimigo da lactação, dado que impede a ejeção do leite, que fica assim retido na mama.
Como saber se o bebé está a mamar corretamente?
Se o bebé estiver a mamar corretamente deverá ter a boca bem aberta, com o queixo a tocar na mama, o lábio inferior virado para fora e consegue-se ver mais aréola acima do que abaixo da boca do bebé.
São desaconselhadas mamadas longas pois contribuem para a maceração do mamilo e formação de fissuras. Desaconselha-se mamadas com duração total superior a 20 minutos, pela probabilidade crescente do bebé perder a força de sucção e passar a deglutir mais ar do que leite. Para além disso, a maior parte dos bebés mamam 90% do que precisam nos primeiros 4 minutos. O espaço de tempo entre as mamadas deve-se contabilizar entre o início de uma mamada e o início da próxima.
Nas primeiras semanas normalmente o RN necessita de 6-8 mamadas/24H. Quanto mais curtas as mamadas, maior a probabilidade de maior número de mamadas.
O bebé pode mamar durante um curto período de tempo, parar, dormitar e voltar a mamar, sendo este ciclo normal e mais habitual no final do dia e à noite.
O horário livre deve ser adotado, embora no primeiro mês de vida se tente cumprir intervalos entre mamadas não superiores a 4h, no período noturno podendo estender-se até às 5h. A exceção são os bebés doentes ou com má evolução estaturo-ponderal. O intervalo mínimo entre cada mamada deve ser de 1 hora, sendo que a maioria dos RN mamam de 3 em 3 horas.
Cuidados com as mamas:
- Lavagem da aréola e mamilo com água no fim de cada mamada e secagem completa ao ar antes de tapar a mama;
- A aplicação do próprio leite materno sobre a aréola-mamilo previne fissuras, pelo seu efeito cicatrizante;
- Aplicação de disco protetor e uso de sutiã.
Nos primeiros dias pós-parto é produzido o colostro e a chamada “subida do leite” ocorre habitualmente entre o segundo e o quinto dia, dando-se o aumento da tensão mamária, podendo haver dor. Pode ser útil a massagem da mama e a extração manual do leite. A utilização de bomba para extração do leite está contra-indicada posto que estimula ainda mais a sua produção pelo efeito de sucção que produz sobre a mama. A massagem ajuda a evitar o ingurgitamento e possíveis mastites. Usar 2 ou 3 dedos para massajar a mama com movimentos circulares do exterior em direção ao mamilo; polegar e indicador no bordo da aréola e espremer o leite suavemente. Esta massagem poderá ser mais eficaz com a aplicação de água morna sobre a mama.
Relativamente à alimentação da mãe durante o período em que está a amamentar, esta praticar uma dieta saudável e variada, evitando comer grandes quantidades de qualquer alimento, alimentos mais alergizantes ou que possam excitar o bebé. Não deverá consumir álcool, tabaco ou drogas.
A evolução do peso do lactente é a melhor forma de avaliar o sucesso da lactação. Em regra há um decréscimo fisiológico do peso do nascimento, que poderá ser de 5-10%, podendo considerar-se satisfatória a recuperação do peso do nascimento entre o 8º- 12º dia de vida. A mãe deverá ser tranquilizada.
É desaconselhada a pesagem diária pela ansiedade criada, sendo suficiente, nas primeiras semanas a pesagem semanal.
Normalmente a evolução ponderal é a seguinte:
Primeiro mês de vida – aumento ponderal entre 200-250g;
Primeiro trimestre – 25-35g/dia;
Segundo trimestre – 15-20g/dia;
Entre o 6ºmês e o 12ºmês- 10-15g/dia.
Se precisar de conselhos na transição para o papel parental, conte com a PT Medical e a nossa equipa de enfermagem e médica.
– Ana Fernandes – Enfermeira –