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Vantagens e Desvantagens da Chupeta

Introdução

A sucção, um reflexo inato, está presente desde a vida intra-uterina, entre a 14ª e 17ª semana de gestação, e tende a desaparecer com o crescimento, entre o 1º e o 3º ano de vida.       

Conhecem-se essencialmente duas formas de sucção: a nutritiva, que inclui o aleitamento materno e o biberão, formas de providenciar alimento ao bebé, e a não nutritiva, provavelmente a forma mais prematura do recém-nascido responder à frustração e à necessidade de contacto, sendo fonte de bem-estar, conforto e segurança. Nesta última categoria encontra-se a sucção digital e a chupeta.       

Não se sabe quando surgiu a chupeta, mas os primeiros relatos datam de há 3000 anos. A sua presença foi descrita em várias civilizações ao longo da história e, hoje em dia, é um objecto difundido por todo o mundo, com uma percentagem de utilização nas crianças dos países industrializados estimada entre os 75 a 79%.       

Como o próprio nome em inglês indica (Pacifier), a chupeta foi criada com o intuito de acalmar as crianças. Inicialmente constituída por materiais primitivos, evoluiu ao longo do tempo, quer na sua forma quer no material de confecção, sempre com vista a optimizar a segurança para os utilizadores. A borracha deu lugar ao látex, que não permitia a esterilização repetida e rompia mais facilmente, que, por sua vez, foi substituído pela silicone, removendo o potencial tóxico e alérgico do látex. Inicialmente fabricada em várias peças com possibilidade de desagregação, passou também a ser apresentada numa peça única, de forma a minimizar o risco para a saúde da criança. Há alguns anos surgiram as chupetas ortodônticas, cuja forma se molda ao palato na tentativa de reduzir o seu impacto das estruturas dentárias.

                   

O que dizem os estudos atuais

Vantagens e Desvantagens da utilização de chupetas

Chupeta e Sindrome de Morte Súbita no Lactente (SMSL):        

O SMSL, pela sua gravidade, tem gerado muita discussão, quer na comunidade científica quer no público em geral.       

A descoberta de alguns factores de risco, nomeadamente a posição do bebé em decúbito ventral durante o sono e a exposição ao tabagismo materno, bem como a adopção de campanhas de esclarecimento populacional para combater essas situações, com particular ênfase para a colocação do bebé em posição de decúbito dorsal ou lateral antes de dormir, permitiu diminuir a incidência de SMSL cerca de 81%, estimando-se a sua incidência actual entre 0.1 e 0.8 por cada 1000 nascimentos.       

Em Portugal, apesar das recomendações da Sociedade Portuguesa de Pediatria, a divulgação dos conhecimentos sobre SMSL e a formação dos profissionais e pais, nunca adquiriu a dimensão atingida noutros países, verificando-se que, apesar de 73% dos pais já ter ouvido falar deste conceito, apenas metade destes sabe enumerar uma das medidas preventivas.        

Apesar dos esforços envidados e do declínio acentuado inicial, a SMSL mantém-se a primeira causa de morte entre o 1º mês de vida e o 1º ano de idade nos países industrializados e, a partir de meados da década passada, verificou-se uma estagnação na sua incidência, o que traduz a necessidade de identificação de outros factores de risco e de promoção de factores protectores adicionais.       

Os estudos mais atuais referem que a chupeta pode ser um fator protetor para a SMSL. As sociedades científicas de relevo, com destaque para a Associação Americana de Pediatria,  recomendam a chupeta para diminuição do SMSL desde que a amamentação esteja bem estabelecida, a partir do primeiro mês de vida e até ao ano de idade, com a ressalva de que não se deve forçar as crianças que recusam a chupeta, não se deve tentar reintroduzi-la quando ela cai durante o sono nem se devem prender à roupa da criança outros objectos pelo risco de estrangulamento.

Chupeta e Amamentação:

O aleitamento materno acarreta benefícios inequívocos, tanto para a mãe como para o lactente e as principais organizações de saúde mundiais, como a Organização Mundial de Saúde e a Associação Americana de Pediatria, recomendam a amamentação exclusiva até aos 6 meses de vida.        

A utilização da chupeta tem vindo a ser associada à interferência com o aleitamento materno e, por essa razão, algumas organizações de saúde, em 1990, recomendaram a não utilização de chupeta como um dos “10 passos para a amamentação com sucesso”. Hoje em dia, a evidência actual, aponta para a inexistência de tal relação e são cada vez mais os autores e sociedades que recomendam a utilização de chupeta como medida preventiva do SMSL, após a amamentação estar estabelecida.

Chupeta na prematuridade:

Embora a sucção e a capacidade de deglutição do feto estejam presentes às 28 semanas de gestação, para que a amamentação ocorra de forma adequada, é necessária uma coordenação entre três processos fisiológicos: a sucção, a deglutição e a respiração, o que surge somente pelas 32-34 semanas de vida intra-uterina. Assim, nos prematuros com idade inferior a 32 semanas, a alimentação é normalmente realizada com recurso a sondas nasogástricas, em regime de internamento.       

A utilização de chupeta está associada a uma diminuição substancial dos dias de internamento em média 7 dias. No entanto, a causa não está bem esclarecida. Alguns mecanismos foram propostos, de entre os quais a sugestão de que a chupeta, além de proporcionar conforto, induz um estado de regulação fisiológica e auxilia o desenvolvimento oro-motor, melhorando a coordenação da sucção-deglutição-respiração. Parece ser consensual que a chupeta constitui uma opção económica para optimizar a progressão dos prematuros durante o internamento hospitalar.

                   

Chupeta e alterações dentárias:

O uso de chupeta tem vindo a ser associado a alterações no desenvolvimento dentário. As principais alterações descritas são o Overjet excessivo (figura 1, B), a Mordida Aberta Anterior (figura 2, C) e a Mordida Cruzada Posterior (Figura 1, D).

      Utilização da chupeta e alteração dos dentes

 Figura 1: Representação  de alterações dentárias associadas à chupeta.       

A- Normal; B- Overjet excessivo; C – Mordida Aberta Anterior; D – a Mordida Cruzada Posterior       

Tal facto pode ser justificado pela necessidade de existir um equilíbrio entre a pressão exercida pela língua do lado interno e a pressão dos lábios do lado externo, para assim se observar um desenvolvimento correcto da maxila, mandíbula e dentes. A chupeta, agindo na cavidade oral como uma força não intencional, pode conduzir e/ou acentuar uma má oclusão dentária, levando ao adiamento da erupção total dos incisivos (mordida aberta), forçar a sua protrusão (overjet) ou estreitar o arco superior, aumentando a actividade muscular sobre os caninos e diminuindo-a sobre os molares, surgindo a mordida cruzada posterior.       

A maioria dos estudos nesta área encontrou diferenças nas crianças que utilizam chupetas para lá dos 24 meses de idade. Quanto mais tardiamente o hábito é abandonado, maior a probabilidade de aparecimento destas alterações. Algumas alterações, como a mordida cruzada posterior, não revertem mesmo após a remoção da chupeta.       

Com o intuito de minimizar as alterações induzidas na cavidade oral, surgem, no fim da década de 1950, as chupetas ortodônticas, anunciadas como sendo mais fisiológicas e melhor adaptáveis ao palato da criança, pressupondo movimentos musculares semelhantes aos executados durante a sucção do seio materno. Consequentemente surgiram também diversos estudos mostrando a sua eficácia. Porém, no que refere ao tipo de chupeta ideal, o assunto permanece controverso. O que parece ser consensual é que a sucção da chupeta pode ser fonte de problemas na saúde oral, se continuada após os dois de idade.

Cáries: 

A utilização prolongada de chupetas (para lá dos 3 a 5 anos de idade) ou com o seu uso inapropriado (chupeta associadas a soluções açucaradas) está associada ao aparecimento de cáries. Pelo contrário a amamentação materna para lá dos 12 meses, assim como a lavagem frequente dos dentes são factores protectores para aparecimento de cáries.

Efeito da chupeta no desenvolvimento da fala:

Acredita-se que a chupeta, quando usada de forma inadequada, tem impacto negativo sobre o desenvolvimento da fala. À medida que ocupa a cavidade oral, limita o balbucio, a imitação de sons e a emissão de palavras, levando a uma vocalização distorcida. A evidência, no entanto, é escassa, não sendo possível fazer qualquer tipo de recomendação.

Chupetas e sua influência na otite:

A otite média aguda (OMA), constituindo uma infecção comum em idade pediátrica, é uma causa prevalente de recurso aos cuidados médicos e instituição frequente de antibioterapia.

Actualmente estão identificados alguns factores de risco para esta patologia, nomeadamente a associação positiva com a infecção do trato respiratório superior, exposição ambiental ao fumo de tabaco e, mais recentemente, a chupeta também foi implicada como um factor de risco.       

Na maioria dos estudos não se identifica um aumento significativo do risco para a ocorrência do primeiro episódio de OMA nas crianças utilizadoras quando comparadas com as não utilizadoras. No entanto, as crianças que utilizam chupetas têm maior risco de OMA recorrente, com um aumento de 25% da incidência anual desta infecção e a remoção da chupeta ou a restrição do seu uso diminui em cerca de 29% a ocorrência de OMA nestas crianças.       

Isto é explicado pelo facto de um primeiro episódio causar dano na mucosa do ouvido médio e, consequentemente, conduzir a uma susceptibilidade acrescida para nova infecção através de dois mecanismos que têm sido advogados nesta relação. Por um lado, a sucção aumenta o refluxo de secreções nasofaringeas para o ouvido médio, facilitando assim a contaminação desta estrutura por agentes patogénicos e o processo infeccioso. Por outro lado, as alterações dentárias que o uso da chupeta pode provocar, exercem também o seu papel contribuinte, dado que poderão induzir disfunção da Trompa de Eustáquio.

Chupeta e seu efeito no refluxo gastroesofágico (RGE):

O RGE é muito frequente no lactente, estimando-se que cerca de 50% dos bebés saudáveis terão refluxo e/ou mesmo regurgitação mais de duas vezes por dia.       

O uso da chupeta foi hipoteticamente associado tanto ao aumento como à redução dos episódios de RGE. Por um lado, advoga-se que a chupeta conduz a uma aceleração do trânsito intestinal, bem como a um maior número de movimentos intestinais, diminuindo o refluxo.Por outro lado, existe a possibilidade do aumento de RGE pós-prandial, quando a chupeta é usada na posição deitada, devido ao relaxamento do esfíncter esofágico.       

Um estudo concluiu que nas crianças, quando deitadas, a utilização de chupeta aumentava o número de episódios de refluxo. Na posição sentada, o uso de chupeta diminuiu o RGE, mas não de forma muito acentuada. Assim, recomenda-se que a chupeta seja evitada em crianças com RGE quando em posição deitada e oferecida após as refeições, na posição sentada, devido ao efeito benéfico na diminuição dos eventos de RGE.

Chupeta na diminuição da dor:

Além de outros benefícios potenciais da chupeta, a sua utilização como um factor de alívio da dor em recém-nascidos e lactentes durante procedimentos dolorosos como a cateterização, vacinações, punções lombares, punções venosas, pesquisa de retinopatia da prematuridade, também parece existir. O acto de sucção tende a promover a libertação de substâncias como a serotonina, que modificam, de certa forma, a percepção dolorosa. Este efeito parece ser intensificado quando se utiliza, juntamente com a chupeta, soluções açucaradas.       

A chupeta poderá, por essa razão, ser uma boa opção para reconfortar os lactentes durante os procedimentos invasivos, sendo o benefício maior nos recém-nascidos e, possivelmente, mantendo-se o efeito mesmo após os três meses de idade. Na fase do aleitamento materno, quando as crianças apresentam cólicas com maior frequência e se encontram mais irritáveis, a chupeta também poderá ser um adjuvante à redução do desconforto do bebé.

A segurança na utilização da chupeta:

Por último, abordamos a segurança da utilização da chupeta.       

A possibilidade de asfixia e estrangulamento causada por partes que se desagregam ou por fitas usadas para fixar estes objectos à roupa das crianças e a laceração da mucosa oral ou da base do nariz em caso de queda durante o uso, são alguns dos riscos descritos da utilização da chupeta. Por essa razão, estão actualmente aprovadas normas técnicas que visam regulamentar a produção destes objectos, aumentando a segurança da sua utilização.       

Recomenda-se que a chupeta tenha forma e tamanho compatível com a cavidade oral da criança, variando conforme a idade – menor ou maior do que 6 meses. O apoio labial deve ser ligeiramente côncavo, voltado para a boca da criança, possuindo fendas laterais que possibilitem a ventilação. A porção próxima à base do nariz deve ser recortada, proporcionando um bom velamento dos lábios. As fitas que fixam a chupeta deverão ser evitadas pelo perigo de asfixia. Os raios solares, a esterilização frequente e gordura são factores que, a longo prazo, danificam a chupeta, que deverá, por isso, ser inspeccionada frequentemente pelos pais e cuidadores, sendo substituída regularmente em caso de alteração da textura, rasgões, fissuras ou fragilidade aparente.       

Como descrito anteriormente, deve preferir-se a tetina de silicone, por ser mais resistente, lavável e com menor potencial alérgico, sendo que este último ponto é muito importante quando existe história familiar de atopia.       

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– Dra. Joana Sampaio Especialista em Medicina Geral e Familiar –

– Dr. João Júlio Cerqueira Especialista de Medicina Geral e Familiar –

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