Os antidepressivos são uma classe terapêutica bastante utilizada pela população portuguesa.
Uma das dúvidas que costuma surgir na consulta é sobre o aumento de peso que pode estar associado ao seu consumo. Primeiro, é preciso compreender que, dentro da classe dos antidepressivos, existem diversos grupos de medicamentos, com características diferentes. Os dois principais grupos são:
- Os antidepressivos tricíclicos (ADT), compostos pela Amitriptilina; Clomipramina; Desipramina; Imipramina; Nortriptilina; Doxepina.
- Os inibidores de recaptação de serotonina (SSRI), como a Citalopram; Escitalopram; Fluoxetina; Fluvoxamina; Paroxetina; Sertralina.
No entanto, existem muitos outros grupos de antidepressivos, como:
- Os inibidores da recaptação de serotonina e noradrenalina (SNRIs), como Venlafaxina; Milnaciprano; Desvenlafaxina; Duloxetina.
- Os Inibidores da monoamina oxidase (MAO), como Fenelzina, Iproniazida, Isocarboxazida, Harmalina, Nialamida, Pargilina, Selegilina, Toloxatona, Tranilcipromina.
- Os Inibidores da recaptação de noradrenalina-dopamina, como a Bupropriona.
- Antidepressivos atípicos, como a Maprotilina; Mianserina; Mirtazapina; Trazodona.
O ganho de peso é um efeito secundário de quase todos os antidepressivos. No entanto, a forma como as pessoas reagem ao medicamento é bastante variável. Algumas pessoas ganham peso, outras não. Em alguns casos, existe mesmo alguma perda de peso.
Apesar de existir um aumento de peso com os antidepressivos, o ganho de peso poderá não ser diretamente causado pelo medicamento. Existem outras causas relacionadas com a depressão que levam ao ganho de peso, como por exemplo:
1. Alguns doentes, quando estão deprimidos, perdem o controlo dos impulsos, o que leva a que comam muito mais do que faziam habitualmente. Para estes doentes, a alimentação é uma das poucas fontes de prazer que ainda mantêm. Este comportamento provoca um aumento de peso que não está relacionado com o antidepressivo. Nestes casos, o antidepressivo até poderá ser uma ajuda no controlo destes impulsos, limitando este comportamento alimentar disfuncional.
2. As pessoas deprimidas têm tendência a ser mais inativas, sentir-se com menos energia para execução das tarefas do dia a dia, a isolarem-se e deixar de executar atividades que faziam anteriormente. Este comportamento leva a uma diminuição do desgaste energético, o que poderá contribuir para o aumento de peso.
3. Pelo contrário, algumas pessoas que estão deprimidas e começam a fazer a medicação, poderão melhorar dos sintomas depressivos. Esta melhoria do humor poderá levar a um aumento do apetite que resulta no aumento do peso.
4. Outra causa de aumento do peso poderá ser apenas o envelhecimento. Infelizmente, os adultos, à medida que envelhecem, ganham peso por vários fatores não relacionados com a toma de medicamentos.
No entanto, se ganhou peso após começar um antidepressivo, existem várias soluções para o problema. É importante discutir com o médico assistente os benefícios e os efeitos secundários de cada medicamento, ponderar mudança de medicamento, ajuste de dose ou realizar alterações de estilo de vida que limitem este problema.
Das soluções mais importantes a serem introduzidas é, sem dúvida, iniciar atividade física regular. A atividade física é tão ou mais importante para combater a depressão que a toma do antidepressivo. Ajuda tanto no controlo dos sintomas e como no controlo do peso.
Não deverá, de nenhuma forma, parar os medicamentos sem discutir com um médico os benefícios e riscos dessa tomada de decisão. Não informar o médico que parou a medicação pode comprometer decisões futuras relativamente ao tratamento deste problema. Mesmo que esteja totalmente convencido em parar a medicação, faça-o com segurança, com acompanhamento médico.
No entanto, de uma forma global, existem alguns antidepressivos que apresentam um risco maior de levar ao aumento de peso. Estes são:
- No grupo dos antidepressivos tricíclicos – imipramina;
- No grupo dos inibidores da MAO – a fenelzina;
- No grupo dos SSRIs – a paroxetina;
- No grupo dos antidepressivos atípicos – a mirtazapina.
Antidepressivos que levam a menos ganho de peso
Um estudo realizado em 2014 sobre este tema parece demonstrar que os antidepressivos que causam menos ganho de peso são a amitriptilina, nortriptilina e a bupropiona.
A bupropiona poderá mesmo levar a perda de peso.
Deixamos um quadro resumo dos efeitos no peso da maioria dos antidepressivos:
Classe | Efeito |
Inibidores da MAO | Ganho de peso moderado no global |
Fenilzina: o que leva a maior ganho de peso neste grupo | |
Selegilina transdérmica: parece neutra | |
Antidepressivos
Atípicos |
Bupropiona: perda de peso |
Mirtazapina: maior risco de ganho de peso de todos os antidepressivos. | |
Nefazodona: neutro | |
Trazodona: ganho de peso modesto | |
SSRIs | Citalopram: ganho de peso modesto |
Escitalopram: ganho de peso modesto | |
Fluoxetina: perda ligeira de forma aguda | |
Fluvoxamina: neutro | |
Paroxetina: dentro desta classe, o que apresenta maior risco de ganho de peso. | |
Sertralina: ganho de peso modesto | |
SNRIs | Duloxetina: ganho de peso modesto |
Venlafaxina: neutro/ganho modesto de peso | |
ADTs | Amitriptilina: neutro |
Imipramina: ganho de peso | |
Nortriptilina: neutro |
– Dr. João Júlio Cerqueira – Especialista de Medicina Geral e Familiar –